Último dia da semana digital da moda masculina de Paris: em breve um grande filme cinematográfico

Por

Godfrey Deeny

Publicado em
14 de jul. de 2020

Abbie Hoffmann nomeou a reveladora autobiografia de agitação política na década de 60 como "Em breve será um grande filme cinematográfico" – bom título para o último dia da primeira temporada digital da moda masculina de Paris, encerrada na segunda-feira (13).

Com uma experiência inteiramente online devido à pandemia, a temporada acabou sendo um festival de cineastas independentes e curta-metragens para jovens diretores e uma verdadeira semana de moda. Por outro lado, isso não foi tão ruim, desde que tenhamos certeza de que as próximas temporadas de moda apresentem desfiles de moda físicos. Todas as conversas da pré-temporada, prevendo que as grandes semanas de moda do mundo em Londres, Milão, Nova Iorque e Paris se realizarão na web no futuro, revelaram-se um grande absurdo.  É muito simples: a moda precisa ser vivida ao vivo. E ponto.

O dia começou com Lanvin, cujo vídeo se chamava "Le Palais Idéal" e foi gravado em uma estranha gruta criada pelo artista Ferdinand Cheval. Usando um carteiro inspirado nos cartões postais das exposições de Paris de sua época, Cheval construiu a estrutura ao longo de 40 anos com suas próprias mãos. Arquitetura hiper-estilizada, inspirada em tudo, desde um castelo da Baviera até um palácio do Rajastão, com estátuas cômicas de César, Vercingetorix e Arquimedes.

Um cenário ideal para esta poderosa coleção mista, com jaquetas dos anos 60 sem lapelas em azul claro, casacos Mod reefer, blusas de marinheiro Battleship Potemkin masculinas e vestidos de bolinhas de babados grandes, quimonos de malha e capas de chuva de couro estilo Juliette Greco para mulheres. Para acrescentar drama, o diretor criativo da marca até propôs uma  Cat Bag, inspirada na lareira Art Déco de Alvar Aalto para Jeanne Lanvin, com uma mão de esmalte com detalhes de cristal.

“Quero que Lanvin incorpore uma versão mais dramática e cinematográfica de cada pessoa. Sendo o personagem dos seus sonhos”, explicou Sialelli, criador nascido em Marselha e estabelecido em Paris, em entrevista à nova estilista do Canal +, Camille Charrière. Esta foi apenas uma entrevista da meia dúzia de Charrière, totalmente bilíngüe, que apareceu na renovada plataforma web da Chambre Syndicale de la Mode Masculino, que supervisiona a temporada da moda masculina em Paris.

Quando questionado sobre o que mais sentiu falta durante o confinamento, Sialelli respondeu: "A dança e os passos de dança ... acho importante não exagerar na intelectualização do processo criativo".

Ao todo, houve 18 eventos na segunda-feira (13), de um total de 67 marcas no calendário oficial.

Havia jovens chatos que pareciam ótimos na We11done, a marca coreana de streetwear. Indiscutivelmente o elenco mais forte da temporada - todos deitados em torno de um loft modernista retrô que algo saído de uma sessão de fotos do Wallpaper*. Com pijamas de Hugh Hefner e blusas Percy Shelley de tamanho exagerado para os rapazes; e casacos de lã com mangas gigantes e batas Mary Quant para as moças. Além disso, tinha a melhor imagem da temporada – uma águia dourada empoleirada em um ninho de uma dúzia de câmeras de segurança vermelhas.

Phipps nos ofereceu um vídeo de brincadeira, que "chegará na próxima primavera", enquanto o elenco vivia a fantasia de aparecer em um filme real intitulado "Spirit of Freedom". Situada no oeste selvagem de hoje, com paisagens de John Ford e tocas de David Lynch, a primeira frase é maravilhosamente inexpressiva. "Você viu Phipps?", Pergunta um jovem tímido a um velho retorcido. O narrador responde com uma voz rouca: "Mas como você encontra um homem que não quer ser encontrado?" As roupas pareciam secundárias, mas ainda muito boas: camisas de brim estreladas e listradas, grandes casacos xadrez e enormes tops com estampa de gatos selvagens vistos. Se ao menos Henry Hathaway tivesse um drone...

Em uma temporada tecnológica, a marca que melhor utilizou a tecnologia foi provavelmente White Mountaineering, com sua abertura na Cad Cam: Imagens técnicas de teleobjetiva, trilha sonora industrial e elenco de modelos desfilando em angularmente em relação ao espectador. Isso facilitou a admiração dos ternos voluptuosamente cortados em três peças: casacos esvoaçantes, parkas com vários zíperes e coletes robustos e elegantes. Tudo em preto e tudo muito usável. Comercial, calculado e astuto no melhor sentido possível desses termos. Uma exposição de alto nível do designer Yosuke Aizawa e uma boa classificação para Daito Manabe por dirigir o filme.

Todos os desfiles estão disponíveis para assistir em fhcm.com, a nova e elegante plataforma da Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM), o órgão da moda francesa. 

A escolha de Dunhill foi um "filme de informação pública" com imagens de arquivo de um anúncio da década de 70, com imagens de passarelas de desfiles recentes para fornecer um pouco de ironia à marca. O que pareceu bem preguiçoso.

Por fim, apesar de ter sido uma temporada de primavera-verão, raramente foi vista tanta pele em uma semana de moda. Como em Ludovic de Saint Sernin, que era essencialmente um garoto de maiô de couro branco com zíper e outro garoto em uma praia.

Ou, por exemplo, Thom Browne, cujo vídeo era o de um homem negro seminu, o cantor Moses Sumney, usando apenas um sarongue de lantejoulas brancas e fones de ouvido. É difícil formar uma ótima opinião sobre essa coleção, mas pode-se facilmente especular sobre os planos futuros de Thom Browne.