Reuters
Novello Dariella
5 de jun. de 2018
Walmart vende 80% de sua operação brasileira
Reuters
Novello Dariella
5 de jun. de 2018
O Walmart informou na segunda-feira (4) que vendeu 80% de sua operação brasileira para a empresa de private equity, Advent International. A empresa sai de um negócio de baixo desempenho em seu terceiro grande acordo internacional desde abril.

O maior varejista do mundo tem procurado alavancar seus negócios no exterior, recuando de mercados de menor crescimento e investindo em regiões como a China e a Índia. O Brasil foi o foco da expansão da empresa por uma década, mas a unidade tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, à medida que questões operacionais agravaram os efeitos de uma profunda recessão.
O Walmart não divulgou o valor da transação, mas disse que vai registrar uma despesa de aproximadamente 4,5 bilhões de dólares relacionada à venda no segundo trimestre. O varejista manterá a participação restante de 20% no Walmart Brasil. As ações do Walmart aumentaram mais de 2%, com analistas dizendo que o acordo permite que a empresa se concentre em mercados mais promissores.
Duas pessoas envolvidas no acordo disseram que a despesa está de acordo com valor da unidade brasileira para o Walmart, o que significa que o valor do negócio é quase zero. As fontes se recusaram a especificar o valor exato do acordo e uma delas disse que o valor final dos passivos ainda não foi determinado.
O porta-voz do Walmart, Randy Hargrove, disse que a empresa não receberá pagamento pela unidade, mas poderá receber até 250 milhões de dólares da Advent, baseado no desempenho da unidade. O Walmart não divulga os resultados financeiros referentes à unidade brasileira.
O varejista baseado em Bentonville, no estado de Arkansas, está tentando alcançar seus concorrentes, que vão desde a Aldi Inc. até a Amazon.com nos principais mercados. O negócio internacional de baixo desempenho do Walmart representou menos de um quarto da receita total de 500,3 bilhões de dólares no ano fiscal de 2018.
Em um esforço para melhorar seu desempenho internacional, o CEO da Walmart, Doug McMillon, nomeou em janeiro a diretora de operações Judith McKenna para liderar a unidade internacional.
Recentemente, o Walmart vendeu uma participação majoritária de sua subsidiária britânica ASDA para a J Sainsbury Plc e pagou 16 bilhões de dólares pela participação majoritária na firma indiana de comércio eletrônico Flipkart.
Steven Roorda, gerente de portfólio da Stonebridge Capital Advisors, com sede em Minnesota, que é detentora das ações da Walmart, disse que a empresa tem enfrentado dificuldades fora da América do Norte e o CEO McMillon "está escolhendo os mercados em que ele acredita poder escalar e conquistar".
A mudança é positiva em termos de crédito, pois permite que o Walmart faça investimentos em locais com maior potencial de longo prazo, disse o analista de varejo da Moody's, Charlie O’Shea.
O Walmart estava procurando compradores para a sua operação brasileira e sondou possíveis investidores no ano passado, mas não recebeu nenhum proposta de varejistas concorrentes, segundo uma fonte.
A Reuters informou em janeiro que o Walmart estaria vendendo a sua unidade brasileira para a empresa de private equity, Advent.
Em março, a Reuters informou que, no processo de due diligence, potenciais compradores estimaram que o Walmart deve cerca de 3 bilhões de dólares em impostos atrasados no Brasil, o que poderia aumentar a pressão por uma venda com desconto.
O Walmart entrou no Brasil em 1995 e se tornou o terceiro maior varejista do país, após duas grandes aquisições em 2004 e 2005 e um período de rápida expansão de lojas que estagnou em 2013.
A empresa conta com 471 lojas no Brasil, de acordo com o seu site local. A unidade brasileira registrou vendas de mais de 25 bilhões em reais em 2017.
O Walmart registrou prejuízos operacionais no Brasil por sete anos consecutivos, depois que a expansão agressiva de uma década o deixou com locais pobres, operações ineficientes, processos trabalhistas e preços não competitivos.
Uma fonte com conhecimento sobre o acordo disse que as operações do Walmart no Brasil não melhoraram nos últimos dois anos, o que coincidiu com a pior recessão do país em décadas.
A marca Maxmart, do Walmart, vem obtendo um desempenho inferior ao da divisão Atacadão SA, do Carrefour SA, e da unidade Assaí, do GPA SA.
CASH AND CARRY
Uma das fontes, que pediu anonimato pois os detalhes da transação não foram todos divulgados, disse que a Advent deve investir principalmente no negócio de cash-and-carry, no qual grandes lojas vendem mantimentos e outros produtos básicos em grandes quantidades. Esse formato se tornou popular durante a recente recessão no Brasil, com lojas atuando como atacadistas, mas também atraindo consumidores que buscam preços melhores.
O acordo inclui o compromisso da empresa de aquisições em investir no negócio nos próximos anos, disse a fonte. "Planejamos investir no negócio, trabalhar com a equipe de gerenciamento do Walmart Brasil... para criar uma empresa mais ágil e moderna", disse Patrice Etlin, sócio-gerente da Advent International no Brasil, em um comunicado. A transação está sujeita à aprovação regulatória, e o varejista espera que ela seja concluída ainda este ano.
Uma parte significativa da perda líquida esperada de 4,5 bilhões de dólares se deve à perdas na conversão de moeda estrangeira, e a perda final pode flutuar significativamente devido às mudanças nas taxas de câmbio até a data do fechamento, disse o varejista.
O varejista não espera nenhum impacto significativo no lucro por ação no ano fiscal atual, e estima um leve impacto positivo no próximo ano fiscal.
O Walmart foi assessorado pela Goldman Sachs e a Advent foi assessorada pelo Credit Suisse e pela Euro Latina Finance. Os escritórios de advocacia envolvidos no acordo foram Skadden, Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey e Quiroga Advogados e Saiani & Saglietti.
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