Reuters
Novello Dariella
24 de jan. de 2018
Wal-Mart pode ter que vender participação na unidade brasileira com desconto
Reuters
Novello Dariella
24 de jan. de 2018
A Wal-Mart Stores Inc. quer vender parte de suas operações no Brasil, onde tem enfrentado dificuldades financeiras, mas os erros da gigante americana de varejo reduziram o campo de potenciais compradores, e também podem reduzir o valor da negociação.

O maior varejista do mundo está em busca de um potencial comprador para uma grande participação de sua unidade brasileira. Segundo duas pessoas com conhecimento sobre o assunto, em entrevista para a Reuters, a Wal-Mart estaria buscando empresas com experiência na América Latina.
As perdas operacionais da Wal-Mart no Brasil, que começaram em 2009, provavelmente atrairão investidores com planos de recuperação e estimativas modestas, de acordo com uma das fontes, que falou anonimamente devido ao teor delicado das negociações.
A empresa registrou cerca de 30 bilhões de reais (US$ 9,4 bilhões) em cerca de 500 lojas em 2016, mas as aquisições fracas que foram integradas, os processos trabalhistas e as complicações decorrentes da recessão no Brasil prejudicaram sua linha de fundo.
Pra piorar ainda mais a situação, algumas lojas que o Wal-Mart abriu durante o boom econômico do Brasil há uma década estão mal localizadas e despertam pouco interesse para seus rivais. Diversos varejistas deixaram de fazer uma oferta no ano passado, segundo a fonte.
Para atrair os compradores e com a perspectiva de um crescimento robusto no meio online, em dezembro, a Wal-Mart integrou sua unidade de comércio eletrônico local com suas lojas físicas brasileiras, disseram duas pessoas com conhecimento dos planos do varejista que tem sede em Bentonville, Arkansas.
A empresa se recusou a comentar sobre as negociações com empresas de compras ou sobre seus problemas no mercado brasileiro.
Os investidores não se surpreenderam com os rumores sobre a venda da participação da unidade brasileira da Wal-Mart. O diretor executivo da Wal-Mart, Doug McMillon, anunciou em 2016 que pretendia rever as operações globais.
"Se eles decidiram sair do Brasil depois desse tempo todo, é porque perceberam que seu modelo não está funcionando", disse Charles Sizemore, fundador da Sizemore Capital Management LLC, que detém ações da Wal-Mart. "Eu definitivamente posso ver o Wal-Mart tomando decisões semelhantes para outras unidades internacionais no futuro", ele acrescentou.
As ações da Wal-Mart fecharam em alta na segunda-feira, mas caíram um pouco na terça-feira.
FOCANDO EM OUTRO LUGARES
A batalha que a Wal-Mart enfrenta no Brasil está bem distante de seu desempenho no México, o maior mercado da empresa fora dos Estados Unidos. A unidade Wal-Mart de México SA. de CV é o varejista n°1 do México.
Esse sucesso se deve à decisão da Wal-Mart de se associar com o varejista mexicano Cifra na ocasião do lançamento da operação na década de 90, bem como no auxílio de executivos locais que a mantêm sintonizada com o mercado, de acordo com Carlos Bernal, analista da corretora Actinver no México.
Em contrapartida, a Wal-Mart lutou para ganhar força e investiu 1 bilhão de dólares em 2004-2005 em uma série de aquisições no nordeste e no sul do Brasil, duas regiões com diferenças econômicas, geográficas e culturais.
Fracas decisões de investimento imobiliário, sistemas de computação incompatíveis, impostos não-previstos e despesas trabalhistas somados às dificuldades que integram a rede de lojas, prejudicaram os ganhos da unidade brasileira por anos.
Analistas e ex-executivos do Brasil disseram que um dos maiores contratempos da Wal-Mart no Brasil foi perder uma disputa pelo atacadista Atacadão para o Carrefour SA, que pagou 1,1 bilhão de dólares por este em 2007.
O Atacadão e o rival Assai, que foi adquirido no mesmo ano pela francesa Casino, subsidiária do GPA, passaram a dominar o crescente segmento cash-and-carry, gerando lucros até mesmo durante a recessão do país. A entrada da Wal-Mart no segmento foi em grande parte um fracasso.
A Wal-Mart agora parece pronta para se focar em outros lugares, mantendo o que pode ser um interesse mais passivo no Brasil, disse uma das fontes familiarizada com as negociações entre a companhia americana e empresas de private equity. A fonte também informou que os detalhes de uma parceria não foram claramente estabelecidos.
"Eles ainda querem manter uma participação na unidade brasileira para poder estar por perto e não tirar a atenção de onde devem", disse Jack Ablin, diretor de investimentos da BMO Private Bank em Chicago. "Isso se encaixa na estratégia que Doug McMillon estabeleceu há alguns anos atrás. A Wal-Mart está se concentrando em seu mercado doméstico, onde ainda detém uma participação dominante".
De acordo com uma das fonte, um dos fundos com os quais o Wal-Mart conversou é a Acon Investments LLC, que comprou o varejista regional GBarbosa em 2005 e o revendeu dois anos depois para a Cencosud SA CEN.SN, do Chile.
Outro deles é a Advent International Corp, que investiu no varejista de vestuário brasileiro Restoque Comercio e Confecções de Roupas SA, e na cadeia Quero Quero. Um terceiro, o GP Investments Ltd GPIV11.LU, tem participação no varejista de artigos esportivos Lojas Centauro, que recentemente pediu registro para um IPO.
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