Vetements: a moda como declaração política e pessoal
Ironicamente, Demna Gvasalia, um refugiado georgiano, apresentou o seu desfile em Paris no domingo, quando a Rússia, que invadiu sua região natal no Mar Negro, conseguiu ganhar da Espanha e passar de fase na Copa do Mundo.

Demna recrutou quarenta jovens georgianos para o seu desfile de primavera-verão 2019. Os modelos foram descobertos durante um casting nas ruas de Tbilisi. A coleção foi repleta de insultos em cirílico, emblemas soviéticos, peças ultra-modernas e homens mascarados. "Esta é a minha proposta de moda mais pessoal. Eu não acho que eu tinha confiança antes para criar esse tipo de coleção. Eu me tornei um refugiado com dez anos de idade. A casa da minha família foi bombardeada. Eu era um refugiado em meu próprio país", disse o estilista, no momento em que Rússia e Espanha iniciaram uma disputa de pênaltis nas oitavas-de-final, em Moscou, na Copa do Mundo. Quando Demna Gvasalia era criança, a Rússia invadiu sua região natal da Abkházia, forçando sua família a fugir para a Europa Ocidental: ele então começou uma longa jornada para se conhecer de autodescoberta. O desfile de domingo pareceu revelar parte disso.
Encenado sob um viaduto sob o principal anel viário da cidade e apoiada por uma trilha sonora que incluiu Sisters of Mercy, o desfile trouxe uma atmosfera carregada de hard rock. O look de abertura incluiu uma camiseta segunda pele estampada com uma Virgem e o Menino Jesus diante de uma basílica russa. As camisetas da coleção foram usadas com enormes casacos oversized, com grandes ombreiras, ssim como sua avó costumava usar em seus próprios casacos. As parkas foram adornadas com grandes golas de malha; alguns modelos usavam gargantilhas sadomasoquistas. Nos pés, tênis com spikes. Calças jeans cinza, recortadas e remendadas; jaquetas camufladas, usadas com shorts e capuzes combinando. Em seguida, uma série de memoráveis parkas de esqui, muito esportivas, feitas nas cores das bandeiras da Rússia, Turquia, Ucrânia, Estados Unidos e, claro, da Geórgia. Cool, mas também ameaçador.
"É uma maneira muito diferente de trabalhar: não se trata apenas de fazer roupas. Percebi que precisava contar uma história, a minha. Fazer um filme e não somente um desfile. Voltei às minhas raízes, no meu conturbado país. As roupas soltas foram inspiradas nos meus primos, que tinham mais dinheiro. Eu não sabia que a moda existia na época!”, explicou o criador, no momento em que a Rússia, que frequentemente perde no futebol, mas raramente nas guerras no Mar Negro, venceu a Espanha nos pênaltis.
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