26 de jan. de 2016
Urtiga pode se tornar uma das fibras sustentáveis do futuro
26 de jan. de 2016
Uma das grandes preocupações da moda ética é a escolha de tecidos sustentáveis. O algodão tradicional é a fibra natural mais comum usada na moda, mas há aí alguns problemas sérios relacionados.
O cultivo depende de uso intensivo de água, como o gasto de 2.900 litros para se fabricar uma camiseta de algodão e de 11.800 litros para uma calça jeans. Além disso, ele utiliza uma quantidade desproporcional de pesticidas em comparação com outras culturas.

A cultura algodoeira representa 3% da área cultivada no mundo, mas consome 25% de todos os inseticidas, 11% de todos os pesticidas e 90% da oferta mundial é geneticamente modificada. Isso tem consequências para o solo, qualidade da água, biodiversidade e para a saúde humana. O cultivo do algodão orgânico é rentável e sustentável, mas traz rendimentos mais baixos.
O algodão geneticamente modificado (GM) deveria reduzir a necessidade de pesticidas por ser mais resistente às pragas, mas não é o que tem acontecido nas plantações da Índia e de outros países. Existem alternativas para o algodão, no entanto. O bambu cresce rapidamente e de forma sustentável, mas requer produtos químicos nocivos para o processamento.
O cânhamo industrial é uma fibra natural fantástica e costumava ser a principal fonte de fibra para se fabricar tecidos no passado. Infelizmente, ele é ilegal para ser produzido no Brasil, EUA e outros países ocidentais por causa da proibição à maconha. Isso nos leva a uma planta que a maioria das pessoas acredita ser uma praga, as urtigas.
Elas crescem em todos os lugares e o processo para extrair a fibra não necessita de quaisquer produtos químicos, enzimas ou outras substâncias auxiliares.
Elas são perenes, o que significa que podem ser colhidas a cada ano. Elas produzem fibras de alta qualidade, fortes, versáteis e que têm um bom comprimento para a fiação.
A boa notícia é que o tecido de urtiga é perfeitamente seguro para vestir e, na verdade, é um tecido muito bonito, resistente e sustentável. O tecido é feito a partir das fibras dentro dos caules da planta, não as farpas sobre a superfície exterior.
A planta de urtiga é uma alternativa útil em relação a outras fibras naturais, como cânhamo, linho e algodão, e irá desempenhar um papel cada vez mais importante dentro dos próximos 5 a 7 anos.

As fibras da urtiga têm uma característica especial pelo fato de que são ocas, o que significa que podem acumular ar dentro de si criando assim um isolamento térmico natural. Também são resistentes a doenças e pragas, por isso não precisam de produtos químicos e podem ainda resistir a mais de 40 espécies de insetos.
A ideia não é nova, já que as urtigas têm sido utilizadas em alimentos, tecidos e até mesmo em medicamentos desde o século XVI. A urtiga foi usada na Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, quando o país controlava 90% do comércio de algodão do mundo, o que foi uma dor de cabeça para quem não podiam mais manter comércio com o país. As urtigas foram cultivadas como uma alternativa e depois usadas para fazer uniformes para as tropas alemãs.
O fim da Guerra e o desenvolvimento das fibras sintéticas fizeram com que os tecidos feitos de urtiga nunca decolassem, mas a planta esquecida continua a ser uma alternativa sustentável esperando seu retorno triunfal para o mundo da moda.
Felizmente, algumas marcas de moda preocupadas com a sustentabilidade estão utilizando a urtiga para produzir roupas como foi o caso da famosa marca de jeans holandesa G-Star Raw.
Para impulsionar o uso de materiais sustentáveis, a G-Star iniciou o programa Sustainable RAW em 2010. As peças do programa foram inteiramente feitas de materiais sustentáveis inovadores e consistiam em três linhas como algodão reciclado, algodão orgânico e urtiga (Nettle em inglês).
A G-Star combinou as fibras do algodão orgânico com as da urtiga para criar uma linha de denim sustentável com um impacto ambiental reduzido. Isso mostra que a urtiga tem um enorme potencial de introdução na moda, misturada também com fibras como tencel, seda, modal entre outras.
A marca de moda sustentável feminina Brennels foi a única empresa na Holanda e no mundo que utilizava urtigas em larga escala para sua coleção de moda (a marca não existe mais).
A Brennels trabalhou duro para encontrar a melhor maneira de produzir tecidos feitos de urtiga e cultiva um tipo específico da planta importada da Alemanha, modificada geneticamente para ter a melhor fibra. Depois de cultivadas, as plantas chegavam até uma altura de 2,5 metros.

Os caules eram cortados e deixados no campo para maceração (quebra através da exposição à chuva, orvalho e raios do sol). Depois, a palha era recolhida, pressionada em fardos e colocada em um celeiro para secar.
A parte mais difícil era separar a fibra do caule. Isto é feito mecanicamente removendo o caule seco a partir da fibra. As fibras são então penteadas até que fiquem limpas e possam ser misturadas com o algodão orgânico e fiadas juntas num fio para depois tecer os tecidos.
Para a coleção masculina primavera-verão 2015 da Etro, em Milão, o estilista italiano Kean Etro produziu casacos e camisas feitas de fibras de urtiga, banana, cereais, bambu, cânhamo e até leite. Etro resolveu investir numa linha de tecidos sustentáveis para manter a biodiversidade na agricultura.
A coleção foi inspirada pela Exposição Universal de Milão, que aconteceu em 2015 sob o tema 'Alimente o Planeta. Energia para a Vida'. A utilização da fibra de urtiga na indústria da moda só está começando e esperamos que possa se tornar uma alternativa sustentável e rentável ao algodão tradicional.
Fonte: Stylo Urbano
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