Reuters API
Estela Ataíde
20 de out. de 2020
Trabalhadores têxteis do Bangladesh rezam por encomendas enquanto pandemia destrói exportações
Reuters API
Estela Ataíde
20 de out. de 2020
Shahidullah Azim, proprietário de uma fábrica de roupas no Bangladesh, demitiu 20% dos seus trabalhadores após a primeira onda da pandemia de coronavírus. Agora, ao ver a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos, Azim enfrenta "uma crise sem precedentes".

E ele não está sozinho. O Bangladesh é o segundo maior produtor de vestuário do mundo, depois da China, mas seus líderes industriais dizem que os varejistas internacionais estão evitando fazer encomendas, atrasando decisões de compra ou exigindo cortes acentuados de preços.
"Isto é um desastre. Estamos recebendo encomendas apenas para sobreviver", assegurou Siddiqur Rahman, um fornecedor de vestuário para varejistas internacionais, incluindo H&M e GAP Inc. "Prevíamos que os pedidos iam melhorar antes do Natal, mas isso não aconteceu." Rahman diz que os clientes estavam exigindo reduções de preços de até 15%, tornando a recuperação muito mais difícil.
No ano fiscal encerrado em junho, as exportações de roupas do Bangladesh totalizaram 27,94 bilhões de dólares (cerca de 23,71 bilhões de euros), 18% a menos que no ano anterior. Houve uma recuperação de menos de 1% no trimestre de julho a setembro, graças à um aumento na demanda por malhas, que representam metade do total de exportações de vestuário do Bangladesh.
No entanto, quase metade das fábricas que produzem artigos em malha, como t-shirts e sweaters, têm dificuldade em permanecer abertas, ressaltou Selim Osman, presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Artigos de Malha do Bangladesh. "Uma segunda onda pode atrasar ainda mais a recuperação", opinou Osman.
Os salários baixos ajudaram o Bangladesh a construir a sua indústria de confecção, com cerca de 4 mil fábricas que empregam quatro milhões de trabalhadores. A roupa confeccionada é o pilar da economia, contribuindo com cerca de 16% do PIB do país, segundo o banco central.
Azim, proprietário de uma fábrica que abastece varejistas europeus e norte-americanos, disse que foi forçado a cortar um em cada cinco postos de trabalho. "É o caso da maioria das fábricas", assegurou. "Agora começou a segunda onda. Não sabemos o que o futuro nos reserva." Especialistas temem que o país do sul da Ásia enfrente outra onda de infecções durante o inverno, tendo sido confirmados 390.206 casos até ao momento, incluindo 5.681 mortes.
Cerca de um terço de 1 milhão de trabalhadores que foram colocados sob licença ou demitidos foram recontratados desde julho, segundo os líderes sindicais. Mas, muitos enfrentam dificuldades sem o pagamento de horas extra, que muitas vezes representam 20% de sua renda mensal.
"Sem horas extra, é muito difícil cobrir as despesas", afirmou Banesa Begum, um trabalhador de Gazipur, fora da capital Dhaka. “Só rezo para que a minha fábrica receba mais encomendas para podermos sobreviver.”
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