Stéphane Rolland celebra joias do Brasil com vestidos totem no Palais de Chaillot
Bem-vindos ao Rio de Janeiro. Na baía, o sol nasce numa atmosfera frenética de Bossa Nova. Vestidos vaporosos sucedem silhuetas ricamente adornadas de ouro. Para a sua coleção de Haute Couture dedicada à primavera-verão 2023 e apresentada no Palais de Chaillot, na terça-feira (24 de janeiro), em Paris, o estilista francês Stéphane Rolland entrega a sua visão de um Brasil exaltado e fantasiado. Com um desfile repleto de símbolos pré-colombianos e ouro dos conquistadores.
Imersão total na Amazônia. Um poncho imaculado, como um véu iridescente, com uma escultura no ombro esquerdo abre o baile, nas notas de Antonio Carlos Jobim ao violão. Seguiram-se vestidos "colonnes", por vezes com bainhas assimétricas, em crepe e gazar branco, cujo contorno é pontuado por pedras preciosas e pulseiras douradas oversized. Punhos de ébano e anéis gigantes, a mulher trajada com estes "vestidos totêmicos" é como que divinizada.
“Há muito tempo queria fazer um desfile dedicado ao Brasil”, sorri Stéphane Rolland, que viveu no país durante a sua adolescência. "Amo esse país, admiro o estilo e o prazer de viver que o brasileiro tem no dia a dia. Com silhuetas trapezoidais e relevos, quis destacar o próprio patrimônio arquitetônico do Rio e de Brasília", detalha o criador inspirado nas criações redondas e generosas do famoso arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.
Nos vestidos e macacões, Stéphane Rolland oferece assim volumes ousados, a sua indulgência com grandes reforços de esguios capuzes e ombros desproporcionais, transformando um macacão cor de café numa esbelta borboleta que evolui na passarela.
Muito ouro e pedras preciosas
As notas do piano estão como que suspensas, o tempo estende-se, como os brincos alongados em forma de vírgula. Surge um poncho esmeralda drapeado. Jogando com a transparência de um tecido charmoso, este exibe um estonteante decote adornado com malaquitas, um verde hipnótico. Depois, um vestido com capuz em crepe lamê dourado, bordado com ametistas cuja capa ondula na passarela.
"Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!" A voz cálida da cantora brasileira Maria Bethânia, recitando uma oração do poeta português Fernando Pessoa, acompanha uma impressionante silhueta piramidal.
Como a imagem negra de Nossa Senhora Aparecida – padroeira do Brasil – a noiva está vestida com uma capa de amplos volumes, em gazar cloqué lamé dourado, inteiramente adornada com esculturas "Marajoara". Estes símbolos homenageiam a civilização pré-colombiana que viveu às margens do rio Amazonas.
"Utilizamos muitas folhas de ouro para este último vestido", sorri o costureiro. "Todos os elementos foram laqueados e depois cobertos a ouro pelo designer de interiores Fabien Barbera. Os elementos esculpidos são feitos de uma liga especial e toda a dificuldade passou por se fazer uma renderização que parecia imensa, compacta e pesada enquanto acabou por ser extremamente leve para carregar".
Ao conquistar os seus convidados e a sua clientela internacional, principalmente da Ásia e Oriente Médio, o estilista enche de brilho o segundo dia da Semaine de la Haute Couture parisiense. Num cenário estilístico dividido em três atos, que mergulha no antigo mito grego de Orfeu e Eurídice e traz uma releitura contemporânea, numa referência a um Orfeu Negro, uma longa-metragem do cineasta francês Marcel Camus que retrata o Brasil dos anos 1950.
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