24 de mai. de 2019
Rio Ethical Fashion: evento vai debater a urgência da sustentabilidade na moda
24 de mai. de 2019
Na semana do Meio Ambiente, o Rio de Janeiro vai sediar o Rio Ethical Fashion (REF), que acontecerá nos dias 6, 7 e 8 de junho, reunindo grandes nomes da indústria para debater, criar parcerias, inspirar e difundir os valores da sustentabilidade na moda brasileira.
A atividade central será realizada no dia 7 de junho, no teatro do Oi Casa Grande, que vai abrigar 14 painéis sobre temas como “Desafios da sustentabilidade no Brasil”, “Ética e o novo luxo”, “Design e economia circular”, “Novos modelos de criação, produção e consumo” e outros. Entre os convidados estão expoentes da moda sustentável no país como André Carvalhal e Bia Saldanha, além de convidados internacionais como Simone Cipriani – criador do Ethical Fashion Initiative –, o francês François Morillion – fundador da VERT, marca de tênis sustentável –, Marieke Eyskoot – uma das principais especialistas em sustentabilidade da Holanda – e Alfredo Orosio, co-fundador da Away to Mars.
O dia anterior à conferência, 6 de junho, será marcado pelo encontro “Moda e Academia – Ética e Inovação”, voltado exclusivamente para educadores de todo o país. A reunião será realizada no IED RIO (Instituto Europeu de Design) e promoverá o debate sobre os novos conteúdos e desafios do ensino da moda no Brasil. No mesmo dia será realizado um Swap Market, uma feira de trocas de roupas aberta ao público e com capacidade para 100 pessoas. O evento será comandado pelo americano Patrick Duffy, fundador da Global Fashion Exchange, uma plataforma internacional que promove a sustentabilidade na indústria da moda.
A seguir, confira nosso bate-papo com a diretora-criativa do evento, a estilista Yamê Reis:
FASHION NETWORK: Qual a urgência de a indústria da moda se adaptar a práticas mais sustentáveis? O que é viável para as empresas em termos de prazos?
Yamê Reis: Movimentos ativistas passaram a usar recentemente o termo "Emergência Climática" na tentativa de explicitar de forma mais clara o nível de desafios que temos que encarar enquanto planeta. A Moda percebeu esse problema até mais cedo que outras industrias, tanto pelo nível de impacto ambiental que provoca quanto pelo seu poder de transformação social. Mas a indústria está mudando lentamente e os últimos relatórios mostram que o ritmo não tem sido satisfatório. Os prazos devem ser os mais urgentes que cada empresa puder aplicar, que vão desde corrigir distorções de condições de trabalho e abusos nas relações de negociação com fornecedores até passos mais largos como investimentos em tecnologia para reciclagem e redesign de produtos, etc. É importante dar os primeiros passos.
Quais são os maiores gargalos da indústria no que tange à sustentabilidade?
Yamê Reis: Infelizmente, ainda nos deparamos com abusos nas relações trabalhistas. No Brasil, a questão da desigualdade social e preconceito racial é ainda um pouco que deve ser melhorado nas empresas. Quanto ao impacto ambiental, eu destacaria o uso abusivo de agrotóxicos no plantio do algodão (seremos a partir deste ano o segundo maior exportador mundial ), e o descarte do excedente de produção e resíduo têxtil sem preocupação com processos de reciclagem e reaproveitamento.
Como as marcas podem se precaver de verem seus nomes ligados a escândalos na área de sustentabilidade e ética (especialmente no trato com os funcionários e controle dos terceirizados)?
Yamê Reis: Com relação à questão racial e de diversidade, sugiro que as marcas dialoguem com as entidades representativas e passem a incorporar pessoas e talentos independentemente de padrões excludentes de raça, sexo e religião. Nas questões de relações de trabalho podem fazer o mesmo, dialogando e trazendo para dentro das empresas uma visão de gestão humanizada com a orientação de grupos especializados, onde as pessoas valem mais do que os produtos.
Um dos painéis trata sobre a “Ética e o novo luxo”. O que vocês pretendem abordar?
Yamê Reis: Queremos dizer que Luxo não é sinônimo apenas de bom gosto, sofisticação ou design, mas também de ética nos relacionamentos e nas práticas do negócio. A Estética não pode se dissociar da Ética quando se fala de Moda sustentável.
Quais novos modelos de criação, produção e consumo vocês acham importante destacar como iniciativas importantes e que podem servir de exemplo para os demais players da indústria?
Yamê Reis: Há muitas oportunidades de novos negócios surgindo no mercado, tanto focadas nos novos materiais limpos e passíveis de reciclagem no fim do ciclo de vida, quanto de negócios com foco em compartilhamento, permitindo que se possa variar o guarda-roupa sem provocar mais emissão de carbono e dano ambiental. O excedente de produtos não absorvidos pelo mercado tem gerado prejuízos gigantescos para as empresa e para planeta. O sistema está quebrado e precisa urgentemente se regenerar.
Novos materiais, fontes de energia renováveis, novas tecnologias têxteis e de reciclagem, produtos feitos para durar, negócios de reparo e compartilhamento, etc. A Moda Sustentável está trazendo várias novas possibilidades de geração de riqueza, porém dividindo com toda a cadeia produtiva, e sem causar mais impacto ambiental negativo.
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