Agência LUSA
17 de jan. de 2016
Profissionais da moda ponderam Fashion Weeks para o grande público
Agência LUSA
17 de jan. de 2016
Paris (Lusa) – Os profissionais da moda nos Estados Unidos querem fazer Fashion Weeks para o grande público, com desfiles de roupa que esteja imediatamente disponível para venda, mas a ideia está longe de convencer os designers de Paris e Milão.
Habitualmente, os desfiles – como os de moda masculina que começaram na última sexta em Milão – são reservados aos profissionais (compradores, imprensa) e a celebridades, mas são cada vez mais acompanhados pelo público, graças às imagens maciçamente difundidas na Internet.
As coleções (outono-inverno, primavera-verão) eram tradicionalmente apresentadas com uma estação de antecedência, devendo os consumidores aguardar pacientemente entre quatro e seis meses para comprar as peças de roupa vistas nas passarelas – uma espera muito longa num tempo em que prolifera a moda 'fast fashion' das grandes cadeias de varejistas, que promove a cópia, sustentam alguns atores.
Considerando o sistema atual 'inoperante' e 'fonte de confusão para o consumidor', o Council of Fashion Designers of America (CFDA), que representa a indústria da moda nos Estados Unidos, confiou a uma consultoria um estudo que deve culminar em propostas, em fevereiro.
Uma das hipóteses aventadas é a realização para o consumidor de desfiles com grande aparato – como nas atuais Fashion Weeks – quando as coleções são colocadas à venda. Esses desfiles seriam precedidos, seis meses antes, de uma apresentação aos profissionais à porta fechada, para permitir às lojas fazerem as suas encomendas.
Mas esta opção não agrada a Paris e a Milão, outras cidades que recebem estas Semanas da Moda.
"Parte-se da ideia de que criamos uma frustração no público ao apresentar-lhe produtos que ele não pode comprar. É verdade. É certamente um problema sobre o qual devemos refletir", admite Ralph Toledano, presidente da Fédération Française de la Couture, inquirido pela agência de notícias francesa AFP.
"Mas essa não é a melhor solução [para] Paris, capital da criação, do 'savoir-faire'. As roupas, queremos apresentá-las de uma forma e com uma coreografia que corresponda ao espírito com que as criamos", argumentou.
Segundo Toledano, que preside a divisão de moda do grupo Puig (Nina Ricci, Jean-Paul Gaultier, Paco Rabanne, Carolina Herrera), "não se pode dizer a um estilista: congelamos a sua coleção durante vários meses", porque "alguns deles, dois dias depois [do desfile], dizem que já não gostam dela, por isso, imagine-se o que aconteceria ao fim de alguns meses!"
O responsável não partilha também da constatação nova-iorquina segundo a qual o atual sistema é 'inoperante', defendendo: "A nossa indústria tem um crescimento excecional!"
Quanto a uma apresentação aos profissionais à porta fechada, Toledano não pensa que seja possível uma coleção manter-se confidencial nos nossos dias, ou que isso possa impedir a cópia.
As mesmas objeções existem em Milão: "Seria criado um mercado negro das imagens dessas criações", predisse o seu homólogo Carlo Capasa, presidente da Camera Nazionale della Moda Italiana, apontando o risco de "transformar a moda em puro fenômeno de marketing".
"O impulso para a inovação dado pelo desfile seria perdido", comentou, considerando igualmente que tal penalizaria as novas marcas, que "perderiam a forte chicotada desencadeada pelo desfile".
Por sua vez, Londres organiza há alguns anos uma Fashion Weekend para o público, que pode, mediante a compra de um bilhete, assistir a desfiles de coleções da estação em curso.
As fronteiras entre este evento e a Fashion Week vão "sem dúvida se chocar mais" no futuro, estimou Caroline Rush, diretora do British Fashion Council.
"Mas devemos assegurar-nos de que os criados que contam com as Semanas da Moda para chegar a novos parceiros comerciais e imprensa podem continuar a fazê-lo", acrescentou.
Vários criadores já tentaram fórmulas alternativas aos shows de moda tradicionais, como a Versus Versace, que faz desfilar modelos disponíveis imediatamente à venda no seu site. A Givenchy permitiu que mais de 800 pessoas, selecionadas por sorteio, assistissem ao seu desfile a 11 de setembro último em Nova York.
A iniciativa não foi, contudo, uma estreia: em 1984, milhares de espectadores puderam comprar bilhetes para assistir a um grande desfile de Thierry Mugler em Paris.
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