Terra
1 de dez. de 2010
Preto total domina primeiro dia da Casa de Criadores
Terra
1 de dez. de 2010
O inverno 2011 da 28ª edição da Casa de Criadores começou em black total. De Walério Araújo, que abriu a noite de desfiles na última segunda-feira (29) à Sumeno, que estreou na passarela, encerrando o primeiro dia, o preto foi o fio condutor das coleções, com um ponto de luz apenas no universo lúdico de Danilo Costa. Muita renda, tule e transparências, em modelagens ora justas, ora mais volumosas.
A grife R.Rosner se inspirou em Lady Chatterley andando pelos - jardins para encontrar o amante: tudo preto - Foto: Divulgação Especial para Terra |
Luto
Walério estava de luto. Tanto pela morte de amigos próximos há pouco (ou mais) tempo, quanto pela possibilidade de quase não desfilar, por falta de patrocinador, o estilista disse que experimentou esse sentimento. Por isso, sua coleção quase toda preta, rendada da cabeça aos pés, inclusive nos escarpins meia-pata forrados e amarrados feitos por Fernando Pires.
Transparência, véus e cores, como vermelho, roxo, bege e branco também fazem parte desse sentimento de morte. "Em muitos países, o luto é expressado por cores", disse nos bastidores. Walério pode estar de luto, mas não perde o bom humor e sensualidade, com transparências e até seios de fora, suas marcas registradas. Afinal, "minha viúva está de luto, mas sempre é toda boa".
Madame devassa
Inspirado em Lady Chaterlley, R.Rosner também vestiu suas mulheres de preto, com volumes, transparências, pedrarias no tom, mas alguns pontos coloridos nas luvas e nos arranjos de cabeça. Para ele, depois de cuidar do marido, ela saía à noite para encontrar o amante vestida de negro, em roupas chiques, mas com sapatos que lembram coturnos, para cruzar o jardim noturno.
A marca de Rodrigo Rosner trouxe sobreposições com pantalonas, algum volume nos quadril, plumas de avestruz, bordados em preto que lembravam flores e frutas do tal jardim da personagem "Só mesmo estando louca uma mulher sairia a essa hora da noite, vestida dessa maneira incomum para ser despida." As peças são realmente suntuosas e meio difíceis de usar, mas dá para encarar uma loucura dessas de vez em quando.
Monstrinhos modernos
O filme Onde vivem os monstros?, de Spike Jonze - adaptação cinematográfica do clássico norte-americano de 1963, escrito e ilustrado por Maurice Sendak, foi a inspiração de Danilo Costa para sua sempre lúdica e divertida coleção para meninos e também para algumas meninas. Estampas próprias como iglus e florestas de pinheiros são alguns dos esconderijos desses monstros, que se cruzam com corujas, ursos e cabeças de unicórnios pelo caminho.
Danilo faz suas peças para jovens descolados, mas cada vez mais ele acerta a mão na modelagem de roupas confortáveis, mas bem feitas, mesmo que tenham quatro mangas ("cada um imagina seu monstro como quer, esses têm vários braços"). Aliás, fica bem interessante a camisa com manga dupla. Um jogo divertido para os "monstrinhos modernos", que flertam também com camisetas assimétricas e mangas de pelos... dos ursinhos. Ah, e sem preto, cinza, estampas de vermelho, marrom e azul pontuaram a coleção. Sem preto...
Toureiras
Preto também foi a cor básica de Geraldo Couto, que trouxe alguns vestidos vermelhos, camisas brancas, calças de cintura alta. Tudo com toque espanhol e modelagem inspirada nas roupas justas dos toureiros. Os babados dos vestidos típicos do flamenco vinham também nas mangas e golas das camisas brancas, ajustadas com corsetes de malha de cristal. Fitas modelam as silhuetas dos vestidos longos e dos coletes, também enfeitam peças em cores contrastantes e finalizam outras como franjas. A coleção em si, apesar das referências, é bem feita e bem acabada - com as camisas brancas em destaque -, mas não traduz arroubos de criatividade, condição importante para participar da Casa de Criadores.
Desconstrutivismo
O estilista Rober Dognani voltou com a fórmula de desconstruir peças apresentando fórmulas "dois em um". Tudo em preto total, como quase todas as coleções apresentadas, ele trabalhou com peças inspiradas em jaquetas perfecto de modelagem diferenciada, vestidos de um lado e macacão de outro, uma perna justa e uma pantalona; ou curto e comprido no mesmo look. Calças-pata, justas com a boca quadrada, cobrindo o pé. Ele abandonou um pouco seus vestidos coquetéis e seus tecidos tecnológicos, para trabalhar com couro de verdade, couro sintético, jérsei e malha de algodão. Com modelagem nada fácil, mas de bom efeito, foi bem. Poderia ter sido mais conciso na passarela, porque alguns looks ficaram com perfume de repetição.
Rosângela Espinossi
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