19 de fev. de 2019
Pressão dos patrocinadores faz Baile da Vogue ser adiado
19 de fev. de 2019
Por pressão dos patrocinadores e do movimento negro, a 15ª edição do Baile da Vogue foi adiada. A festa, que aconteceria no dia 21 de fevereiro, foi transferida para o mês de março, após a polêmica gerada por fotos da festa de aniversário da então editora de estilo da revista, Donata Meirelles. Ela acabou pedindo demissão do cargo após receber duras críticas e acusações de racismo nas redes sociais. Os patrocinadores ficaram com medo de associar seus nomes à polêmica, principalmente no caso das marcas que trabalham as plataformas de representatividade e diversidade em sua comunicação.
Entre os patrocinadores da festa de 2019, estavam a Pantene, Diageo (Johnnie Walker), Magnum, Elma Chips Sensações, BMW, Café Orfeu, Cartões Elo, Coca-Cola, Iorane e Le Lis Blanc.
“Com o objetivo de transformar o Baile de Gala da Vogue numa plataforma de inclusão no universo da moda, a Vogue entende que precisa de tempo hábil para implementar ações importantes e garantir que o baile seja efetivamente um marco deste novo momento. Por conta disso, o baile será transferido para 23 de março, um sábado, num momento mais apropriado e fechando em grande estilo as festividades de Carnaval com apoio dos patrocinadores”, afirmou a Condé Nast, editora responsável pela publicação, em comunicado.
A polêmica, que fez Donata renunciar ao cargo na revista, surgiu após divulgação de fotos da festa de 50 anos, celebrada no Palácio da Aclamação de Salvador. Donata e outros convidados posaram sentados em uma cadeira, ladeados por recepcionistas negras, que estavam vestidas com roupas e turbantes brancos. A imagem foi classificada como preconceituosa. Ativistas e internautas viram na cena uma representação de “mucamas” ao lado de um “trono de sinhá”.
“Com tristeza no coração, mas com a coragem e a cabeça erguida que sempre pautaram a minha vida, inicio um novo ciclo e peço demissão da Vogue Brasil, uma publicação que ajudei a construir”, escreveu Donata, em sua carta de despedida.
Logo após a festa, ela buscou esclarecer a polêmica em nota enviada ao "Estadão": “Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir".
O Coletivo de Entidades Netras (CEN) criou um abaixo-assinado online para pedir que Donata fosse substituída por uma mulher negra. Carol Barreto, estilista que atua há mais de dez anos no meio da moda, é o nome indicado. Carol é designer, colunista da Revista RAÇA e professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia. No texto que acompanha a petição, a instituição nacional do movimento negro explica que o racismo estrutura a sociedade e afasta negras e negros de espaços de prestígio na sociedade:
"Tomar as riquezas da Casa Grande é uma ação de reparação, principalmente quando se tem todas as condições de gerir essas riquezas de modo a proporcionar igualdade. A Vogue Brasil, ao obrigar a saída de Donata Meirelles da cadeira de diretora de estilo, pode agora fazer com que aquelas que são herdeiras da ancestralidade negra do Brasil retomem seus assentos."
Em uma declaração no Instagram, a revista disse: “A Vogue Brasil lamenta profundamente o que aconteceu e espera que o debate gerado sirva como uma experiência de aprendizado.” A Vogue disse ainda que estava criando um painel de ativistas e acadêmicos para ajudar a criar conteúdo para combater desigualdades.
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