Prada marcha em seu próprio ritmo

No desfile de moda masculina da Prada, parecia que ela havia amadurecido com a precisão da alfaiataria, dos uniformes urbanos e a inteligência das proporções, em uma exibição de primeira classe em um domingo chuvoso em Milão. Poucas vezes a dupla formada por Miuccia Prada e Raf Simons esteve tão envolvida como hoje, em que o requinte artístico do italiano se fundiu na perfeição com a atitude urbana e rebelde do belga.

Começando com uma série de ternos levemente volumosos com mangas esculpidas que pareciam as mais elegantes de Milão, todos com creepers robustos grossos. Ora usados com malhas ou camisas com golas enormes e pontiagudas, ou apenas a gola da camisa; um truque de estilo que, sem dúvida, desencadeará uma tendência.

O logotipo triangular da Prada continua em ritmo acelerado, mesmo em ternos que apresentavam triângulos de tecido combinando logo abaixo da nuca. Felizmente, nenhum monograma da Prada estampado foi visto até agora. Quando isso acontecer, saberemos que um capítulo foi encerrado. E de uma forma sombria.

Os casacos Crombie seguiram com creepers, ecoando a subcultura Suedehead do Reino Unido dos anos 1960. Os volumes elegantes continuaram em uma série de looks de camurça crua: blazers, jaquetas, sobrecasacas e até casacos em tons de tabaco e conhaque.

Mas, de repente, o tom mudou, com jaquetas puffer, em cáqui e branco, as mesmas ideias sobre as quais Raf construiu sua reputação inicial. Embora levado a uma silhueta ainda mais extrema. E combinado com algumas calças de esqui de nylon muito Prada.

"Estávamos pensando no que significa realidade, o que nos levou não ao minimalismo, mas a um certo tipo de calma. Quando você pensa em minimalismo em termos de roupas e ambientes, muitas vezes parece frio e distante. O que realmente queríamos fazer foi o contrário, criar a ideia de conforto, calor, o humano e o corpo. Para contrastar essas duas coisas. É por isso que na alfaiataria minimalista há gestos e fragmentos do que percebemos ser Prada, ao longo de muitas décadas. Pode ser uma gola, uma malha ou uma peça estampada. Sempre tentando criar um desequilíbrio”, Raf explicou calmamente, com sua conhecida lógica circular, após o desfile.

O auge da dupla veio em casacos militares de lona e parkas, embora com corte lápis e na altura do tornozelo. Ideal para um dia úmido, como sábado. O mau tempo não impediu que outra grande multidão de fãs se reunisse do lado de fora da Fondazione Prada, gritando em êxtase quando os heróis do K-pop entraram no espaço do desfile.

"Miuccia e eu sempre nos interessamos pela ideia do uniforme. Mas não uniformes relacionados à agressão. Não ao exército ou à polícia, mas aos trabalhadores. Como o avental de camurça conhaque, que não são aventais", riu.

Os convidados entraram para conhecer o principal espaço expositivo da marca, por uma vez exposto em bruto, desprovido de qualquer decoração e com suas vigas laranja expostas. Junto com um regimento de influenciadores. Sua presença deve promover as vendas. Mas a imagem da Prada, a marca de moda intelectual por excelência, curvando-se aos influenciadores da mídia social, era bastante triste.

A princípio, o elenco desfilou sob um teto baixo, apenas três metros acima do público, que lentamente se ergueu para revelar maciços candelabros tubulares Art Nouveau, antes de descer no final como um sonho surreal claustrofóbico.

"Passamos da grandeza para a intimidade, mas não para uma intimidade calorosa e aconchegante. Na verdade, fiquei impressionado com o fato de eles conseguirem fazer esse truque", maravilhou-se Simons, olhando para o teto, quase acima de sua cabeça.

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