O homem tira, definitivamente, a jaqueta em Milão
Se alguém perdeu as últimas temporadas e resolveu acompanhar esta Semana da Moda de Milão, deve ter ficado confuso. Em menos de dois anos, a moda masculina mudou totalmente, deixando para trás o estilo clássico e optando por um vestuário mais desportivo e funcional. A semana da moda masculina dedicada às coleções outono - inverno 2018-19, que terminou na segunda-feira (15), definitivamente enterrou o terno no fundo do armário.

Três grandes tendências explicam, em parte, essa reviravolta: a mudança de atitude das novas gerações, que não querem se vestir como seus avós e preferem optar pelo conforto; a competição desenfreada das marca de moda para seduzir os millenials, para quem o vestuário não representa mais um sinal de riqueza; e, finalmente, a crise que continua a agitar o mercado e direcionar o consumo para produtos mais básicos como as roupas esportivas. De acordo com vários players do setor, "o que vende hoje são apenas moletons, camisetas e tênis".
Neste contexto, não surpreende que os trajes formais tenham desaparecido das coleções. Na verdade, com exceção de Ermenegildo Zegna e Pal Zileri, as grandes marcas da moda italiana abandonaram as passarelas de Milão, de Corneliani a Canali, passando por Brioni. Por este motivo, a coleção outerwear de nylon proposta por Miuccia Prada é um sinal claro da transformação que vem acontecendo.
Milano Moda Uomo também foi fortemente punida pelas profundas mudanças sofridas pela indústria da moda há mais de um ano, entre deserções, novos formatos baseados em desfiles mistos ou virtuais, adiamentos para a semana feminina e transferências para outras capitais da moda. Depois de ter perdido sua tradicional data de encerramento na temporada passada, sempre na terça-feira, o calendário da semana milanesa foi reduzido para 30 desfiles em comparação com 32 em junho e 36 no ano passado.
"É verdade que esta semana é um pouco curta e muito intensa, mas em três dias conseguimos transmitir todo tipo de emoção, dando às marcas a possibilidade de escolher o tipo de apresentação e evento mais apropriado para elas". Essa liberdade e diversidade refletem melhor o mundo em que vivemos", analisa o presidente da Câmara de moda transalpina (CNMI), Carlo Capasa.

Mais do que os desfiles, foram sobretudo algumas apresentações que conseguiram deixar sua marca, como a Etro, que transformou seu espaço no armazém de uma casa de leilões, onde modelos, compradores, jornalistas e o público geral convidado se misturaram entre quadros e móveis antigos.
A festa de Rick Owens no bairro do design, Via Ventura, que se prolongou a noite inteira, também permanecerá na memória. Outra iniciativa original foi o desfile que Dolce & Gabbana organizou na loja de departamentos La Rinascente, que fascinou o público. A marca se empenhou nesta semana, tendo organizado seu desfile tradicional no dia anterior e um outro exclusivo no mesmo dia, à noite.
Outro ponto apreciado foram os locais inéditos escolhidos por alguns designers para seus desfiles de moda, como a Universidade Bocconi no caso de Ermenegildo Zegna, ou o armazém da Fundação Prada. “Hoje, ser criativo significa não fazer o mesmo que os outros. Muitas marcas entenderam, mudaram seus hábitos e escolheram novos cenários para desfilar ou novas formas de apresentação, criando um ar de mistério em torno de suas desfiles", diz Beppe Angiolini, dono da loja multimarcas, Sugar in Arezzo, da Toscana.
Neste jogo, os jovens designers conseguiram acertar e atraíram um grande público em seus desfiles. "É um dos elementos de maior destaque nesta temporada. Os desfiles dos jovens estilistas, que costumavam ser ignorados por jornalistas e compradores, tiveram um fluxo incrível e melhoraram muito em qualidade”, ressalta Carlo Capasa.

Com seu desfile-espetáculo baseado no conto da Branca de Neve e a distribuição de maçãs vermelhas caramelizadas, a marca GCDS transformou a sala do antigo cinema-teatro Manzoni. O mesmo aconteceu com o desfile da Sunnei, que conseguiu atrair os editores de moda das revistas mais importantes no belo showroom-depósito da galeria de design milanesa, Nilufar.
O desfile de Palm Angels também foi um grande sucesso e teve o público aglomerado em pé em um porão. A maioria destas novas marcas, muito ligadas ao mundo musical, também promoveram grandes festas pós-desfiles, dando a Milão uma energia renovada.
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