O bacanal sem vícios de Raf Simons
Embora a sua inspiração tenha sido o filme cult de Berlim, "Christiane F", e seu set tenha sido a representação de um bacanal moderno, a mais nova coleção de Raf Simons foi uma demonstração de alta-costura contemporânea sem qualquer vício.
Alta-Costura, pois Simons usou os melhores tecidos e acabamentos; cortando, drapejando e trabalhando com abandono, em um desfile altamente experimental que também conseguiu ser usável, chic, cool e contemporâneo.
Apresentado em um espaço de exibição industrial mal iluminado na tarde gelada de quarta-feira (8), na região do Westside, em Nova York, os modelos desfilaram em torno de uma plataforma elevada, cheia de tigelas gigantes de limões, maçãs e peras; chocolate (belga, é claro); enormes pedaços de queijo; pães, e centenas de garrafas de vinho Piper e de uvas shiraz da Califórnia. Assim como a coleção, todos com um ar consideravelmente vintage.
Simons fantasiou e criou peças de vestuário totalmente novas, como um suéter / cachecol feito em Argyle e malhas. Suas capas-casacos - algumas em xadrez estilo Sherlock Holmes - foram excelentes, com grandes bolsos laterais, e feitas com forro de seda. De forma mais dramática, casacos oversized foram combinados com luvas longas de couro, estilo femme fatale. Simons também trouxe relógios de alta tecnologia e tabardos com capuz, que lembravam roupas de dependentes químicos. Ele os combinou com calças de estilo esportivo dentro de botas de borracha com laços enormes. O resultado foi clean e muito elegante. A performance teve feixes de iluminação teatral e uma trilha sonora techno com música da Rússia, Bélgica e Chicago. O desfile foi intitulado "Youth in Motion” (Juventude em movimento).
Metade dos looks continham palavras "Drugs", "XTC" ou “LSD” em negrito, e muitas blusas tinham fotos de Natja Brunckhorst, a atriz que interpretou Christiane F no filme de 1981.
A FashionNetwork perguntou à Simons de que forma o filme o teria influenciado. "Bem, por algum motivo, ele me manteve longe das drogas", disse o designer de 50 anos, que viu o filme pela primeira vez quando tinha 14. O filme está ambientado na Berlim de David Bowie em seu estágio de "Heroes" e conta a história sombria de uma adolescente que cai no vício de heroína.
"Todos os modelos foram numerados, como na alta-costura, mas não em ordem. O palco foi criado a partir desse conceito do norte da Europa, de se inspirar em coisas distintas e juntá-las, algo que funciona tanto para um pintor, como um cineasta ou um designer belga. No passado, eu costumava criar o que chamavam de 'interzones', algo como um ambiente indefinido. Portanto, isso tem sido como uma pintura, mas também uma boate e, claro, um desfile de alta-costura. Eu gosto da ideia de algo ser inexplicável. Há tanta análise hoje no mundo da moda que um animal criativo precisa trabalhar e pensar sem medo. As pessoas escondem demais, porque você não deve conversar sobre certas coisas", disse o designer, que irá doar parte do dinheiro arrecadado com a coleção para organizações que apoiam a recuperação do vício.
O evento foi considerado um dos melhores nos dez dias de desfile não muito inspiradores de Nova York, e com razão. Simons apresentou roupas genuinamente diferentes e originais, e os vinhos também não foram de se jogar fora.
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