AFP-Relaxnews
23 de mar. de 2015
Marcas japonesas prosperam, mas modelos locais são raridade em Tóquio
AFP-Relaxnews
23 de mar. de 2015
Tóquio (AFP) – Do minimalismo chique ao "kawai" (entre bonito e gracioso, conceito 100% japonês), a Semana de Moda de Tóquio é uma boa vitrine da criatividade dos estilistas do país, mas não de modelos locais, praticamente ausentes dos desfiles.
O fato de as passarelas da Semana de Moda de Tóquio serem inundadas de jovens magras, brancas e geralmente loiras é um detalhe que surpreende alguns. "É um pouco raro", reconhece Rika Tatsuno, de 24 anos, uma das poucas manequins locais. "Com certeza gostaríamos de ver mais japonesas".
Em geral as asiáticas são pouco numerosas (entre 10 e 15% do total) no evento, nada diferente de outras semanas de moda em cidades ocidentais, como Paris ou Nova Iorque, mas a ausência de modelos japonesas em terras nipônicas é chocante.
Quando aparecem estão quase sempre vestidas no estilo "wafuku" (vestuário japonês), como as manequins de quimono do famoso estilista especializado no traje tradicional, Jotaro Saito.
Mas quando se aproxima o estilo ocidental ("yofuku"), as modelos mantêm-se no vestuário, mesmo quando se trata de coleções de marcas japonesas viradas para o público da mesma nacionalidade.
"É completamente normal", justifica-se o jovem estilista Hiroki Uemura, que deu seus primeiros passos na passada semana em Tóquio com o marca "ByU", descrita como uma versão adulta da popular estética "kawai".
Atração pelo Ocidente
"Se desenhasse um trajo tradicional, elegeria manequins japonesas. Em minhas coleções, busco dar importância ao 'Made in Japan', mas as japonesas sentem-se atraídas pela Europa e pelos países estrangeiros, então para promover a marca, chamo manequins vindas de fora", explica.
No corredor, um grupo de loiras lânguidas arruma-se antes de entrar na passarelle.
Kali Myronenko, ucraniana de 20 anos, descobriu a cena de moda de Tóquio quando tinha 17 anos. Desde então decidiu ficar na capital japonesa, onde sua aparência clara e diáfana tem atraído sucesso e vários contatos.
Para ela, tudo se explica pela fascinação do Japão pelo Ocidente, o que leva muitas pessoas a branquear a pele, descolorir o cabelo e colocar lentes azuis.
Entre os espectadores, o predomínio de figuras caucasianas não choca, muito pelo contrário: "Queremos ver a desfilar as pessoas que consideramos como o arquétipo da beleza", o que aparece nas revistas de moda, explica Kaori Yasuike, que trabalha com assessoria de imprensa.
Segundo um cálculo do fórum em linha "The fashion spot" de 2014, a Vogue Japão só dedicou uma das suas 14 capas à uma japonesa.
Em busca de notoriedade internacional
Para encontrar essa pérola rara, os agentes japoneses viajam para o leste europeu ou à Rússia para convencer candidatas à manequim, pagando pela passagem de avião, o hotel e o motorista, explica Bobbie Tanabe, responsável do casting da Semana de Moda japonesa.
Enquanto pagam para atrair modelos de fora, o dobro do que custaria contratar na cidade, as manequins japonesas tentam a sorte em outros lugares para encontrar trabalho.
Optando por estrangeiras, o evento, que acontece há uma década, mas ainda não conseguiu atrair as grandes marcas, tenta criar uma notoriedade internacional.
Os estilistas "não se podem concentrar somente no mercado asiático", reconhece Rika Tatsuno, que apesar disso lamenta não ter mais oportunidades de exibir seu talento.
Kali Myronenko "adoraria" trabalhar junto a manequins nipônicas em Tóquio, onde, segundo essa jovem modelo ucraniana, o trabalho é mais agradável que em Paris ou Milão.
"Fascina-me a forma de ser dos japoneses, o respeito com que tratam seus interlocutores sem se importar com sua condição", afirma.
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