Luxo e finanças, uma alquimia complexa
Como alcançar a aliança perfeita entre moda, luxo e finanças? Como os fundos de investimento podem valorizar as marcas sem fazer com que elas percam sua identidade e criatividade? Estas são algumas das questões que os participantes do Milan Fashion Global Summit 2017, realizado na quinta-feira, 23 de novembro, em Milão, tentaram responder.
A entrada de um investidor no capital de uma marca de luxo pode ser um acelerador real para o crescimento dela, mas, às vezes, também pode desencadear uma dinâmica negativa, caso a marca se lance, por exemplo, em investimentos mal planejados, a uma velocidade que não acompanhe as suas capacidades.
"É inegável que, se elas forem bem gerenciadas, a entrada de um fundo de investimento ou um IPO são sinônimo de grande valor agregado para as empresas de moda. Basta ver o sucesso espetacular da Moncler, Valentino e Golden Goose nos últimos anos, que duplicaram ou triplicaram seu volume de negócios, enquanto suas margens saltaram, atingindo crescimento de dois dígitos" , diz Emanuela Pettenò, sócia da empresa de auditoria PwC.
"Este tipo de operação extraordinária permitiu que essas empresas acelerassem sua expansão internacional, fortalecessem sua rede de varejo, expandissem sua gama de produtos e implementassem uma estratégia de comunicação relevante. Estes são traços comuns encontrados em cada uma delas", acrescenta.
“No entanto, é preciso tomar cuidado para não ir rápido demais", adverte Roberta Benaglia, fundadora e CEO da Style Capital sgr, que acompanhou com sucesso a primeira fase de crescimento de marcas como Twinset e Golden Goose. "Nos primeiros anos de expansão, as PME têm muitos desafios para enfrentar. Entrar de forma muito prematura na Bolsa pode paralisa-las um pouco, especialmente se não estiverem acostumadas com o mundo das finanças".
Por outro lado, os fundos de investimento não podem abordar o mundo da moda e do luxo como outro setor qualquer. "Os fundos têm um modelo único, que tendem a aplicar em todos os setores. Mas a moda é diferente, é um mundo à parte. Para entrar neste negócio, é melhor já ter competências neste segmento", diz Andrea Morante, presidente da QuattroR sgr., empresa de gestão, promovida pelo Fundo Italiano de Depósito e Consignação. "Não é um mercado generalista".
"Quando entramos nessas pequenas realidades do Made in Italy, na maioria das vezes, vemos que a família está no controle, com o pai na direção, a mãe na administração, o irmão no comercial, etc. Devemos primeiro entender a dinâmica dentro dessas empresas, principalmente familiares, gerenciar o relacionamento com essas pessoas e criar uma organização em torno desse núcleo inicial. É uma alquimia complexa", resume Roberta Benaglia, lembrando que "investir em luxo pode ser muito interessante, gerando retornos muito bons, mas se o investimento for mal gerido, também pode haver grandes perdas".
O sucesso vai depender da maneira que o fundo vai conseguir integrar uma nova organização mais gerencial dentro da empresa, "sem cortar as suas asas", como observa Andrea Ottaviano, managing partner da L Catterton Europa. "O mais difícil é preservar a imaginação da empresa e do empreendedor, tornando-a mais gerencial”.
Neste contexto, o fator humano desempenha um papel decisivo. "O investidor deve ter a capacidade de escolher as pessoas certas, gestores que saibam também ser empresários, capazes de ganhar a confiança do fundador da empresa e seu apoio para a transmissão dos valores e savoir-faire da empresa”, acrescenta.
"Para ganhar essa confiança, começamos a trabalhar junto com os empresários desde os primeiros estágios, às vezes até dois anos antes de concluir uma operação", diz Roberta Benaglia. "Nos aproximamos, eles acabam nos conhecendo melhor e, pouco a pouco, começam a apreciar nossos conselhos e ajuda. É um esforço de longo prazo", conclui.
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