Lancel é relançada por Marco Palmieri
É difícil imaginar um lugar melhor para abrigar uma loja do que o número 8 da Place de l'Opéra, onde fica a flagship da Lancel em Paris. Este espaço maravilhoso, situado em uma área movimentada da cidade, conta com um piso superior com uma vista incrível e privilegiada de um belo edifício de luxo: o Palais Garnier.

Apesar disso, a marca vem perdendo dinheiro nos últimos anos, e Marco Palmieri planeja mudar isso. Palmieri, proprietário e CEO da Piquadro, a marca italiana de bagagem que está vivendo o seu auge, adquiriu o controle da Lancel em junho do ano passado. Até então, ela pertencia ao grupo de luxo Richemont, o terceiro maior do mundo.
Fundada em 1876, a Lancel possui 60 pontos de venda, incluindo lojas monomarca e corners em em lojas de departamento. Inicialmente, antes de se tornar uma cultuada marca internacional, ela fabricava acessórios para fumantes. No entanto, seus resultados financeiros despencaram nos últimos anos, devido à falta de investimento e uma oferta obsoleta, que provocaram pouca procura pela marca.
No ano fiscal encerrado em 31 de março de 2018, as vendas caíram para apenas 53 milhões de euros, menos da metade do faturamento da empresa há uma década. As perdas foram de 23 milhões de euros, muito dinheiro, considerando que a Richemont pagou 346 milhões pela Lancel.
Com um prejuízo esperado de quase 30 milhões de euros nos últimos anos, a Richemont pagou para a Palmieiri adquirir a marca, apesar do acordo tê-la obrigado a pagar 35 milhões de euros em royalties à Richemont na próxima década.

A compra da Lancel é a mais recente aquisição da Piquadro, desde que ela adquiriu a marca de Florença, The Bridge, em 2016. Mas o que faz o CEO da Piquadro, Marco Palmieri, acreditar que pode reverter a situação financeira da Lancel, uma marca que perdeu completamente o fascínio?
“Por que nós compramos Lancel? Porque depois de comprar a The Bridge, conseguimos a deixa-la em boa forma e ganhar dinheiro. E, bem, percebemos que poderíamos fazer isso com outras marcas. Então, entramos em contato com a Richemont. E, provavelmente para a empresa, a Lancel não era tão estratégica, então concordaram em vendê-la”, explicou Marco Palmieri durante um café em Paris.
A fundadora da marca, Angèle Lancel, via a bolsa como o "segredo da sedução feminina", e seu filho, Albert, tornou a Lancel uma marca global dando destaque à bolsos práticos e espelhos internos, e usando couros finos como lezard e pelica.
O CEO enxerga a Lancel como uma joia empoeirada que pode ser polida e recuperada com a combinação certa de gestão e moda.

“A Lancel é uma marca única, com 145 anos de história e um arquivo incrível composto por milhares de ótimos produtos datados do final do século 20 até hoje. É um registro extraordinário de como essa marca liderou a vanguarda. Ela tornou-se uma marca clássica, mas na verdade ela é uma grife de vanguarda, baseada em pesquisa. Permita-me dizer: uma Colette de espírito livre, antes de Colette”, diz Palmieri.
Um grande empreendedor, Marco Palmieri começou sua carreira produzindo artigos de couro em sua própria garagem e viajando pelo norte da Itália em um Renault 5 para vendê-los. Atualmente, a Piquadro fatura mais de 100 milhões de euros e Palmieri está claramente em um novo estágio de sua carreira, construindo um império de luxo.
Seus planos para a Lancel?
Queremos ser mais jovens e muito mais fashionistas. Nosso alvo são os millennials, dinâmicos, rápidos e o made in Italy. Antigamente, a Lancel era produzida em vários lugares. Nosso objetivo hoje é produzir os artigos de couro na Itália, e nossas bolsas de bijoux na França”, diz o empresário. A Lancel é conhecida por colaborar com personalidades bem diversificadas, como Arletty, Edith Piaf, Maurice Chevalier e Josephine Baker.
Palmieri está animado com seu talento criativo: a estilista Barbara Fusillo, que se juntou à Lancel em setembro de 2017, antes da aquisição da Piquadro. Nascida em Modena, Barbara Fusillo estudou em Milão e Florença, antes de se juntar a Miu Miu, primeiro na Itália e depois em Paris; o que a levou à um período de dois anos na Marc Jacobs em Nova York.
“Foi uma ótima experiência, trabalhar nas bolsas das coleções diretamente com Marc, antes de decidir voltar para a Europa”, explicou a designer, durante um entrevista realizada no segundo andar da arejada butique da Place de l'Opéra, inaugurada em 1921.
Sua definição do DNA da Lancel?
“Em termos de couro - qualidade extrema, idéias de vanguarda, criatividade e um perfeito equilíbrio entre criatividade e funcionalidade. Onde o objeto é feito para as necessidades do seu dono ”, diz Fusillo, que trabalha diretamente da sede da Lancel, na rue Ampère, no 17º arrondissement.
Sua primeira coleção desde a aquisição da Piquadro é uma declaração de moda muito mais forte, vista na nova linha Romane: um couro mais elegante e uma pegada urbana, mais inteligente, como as bolsas de couro envernizadas em borgonha e cinza encouraçado, ou as clutches azuis tecnológicas com tiras laterais curvas.

“Nossos novos fechos são uma interpretação de um que encontramos nos arquivos da marca, que traz personalizada à bolsa. Enquanto o couro é baseado em pelica, que me permite brincar com as cores e dar um ar de singularidade”, diz Barbara Fusillo. “Não queremos chocar as pessoas, mas criamos um produto cool. Minha concepção principal é o fim dos anos 70, sem ser hippie”, acrescenta.
Além disso, a loja do Opéra foi atualizada com estampas pop art inteligentes; estantes douradas e mobiliário minimalista. É possível sentir a injeção de moda; sofisticada mas nunca agressiva; com uma veia esportiva. Há um quê de Gio Ponti, com um toque retro-futurista francês.
“Lancel se tornou uma empresa de artigos de couro no final do século 19. E nunca, nunca foi fechada. Quantas marcas podem dizer isso?", diz Palmieiri, claramente orgulhoso de sua conquista.
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