Kim Jones: “Escolhi a Dior porque é a referência da alta costura em França”
Os especialistas em streetwear ainda se lembram de Pastelle, a marca com a qual Kanye West pretendia revolucionar a moda em meados dos anos 2000. Foi com o apoio de Virgil Abloh, na época um membro da sua equipe, e de talentosos como Kim Jones. Desde então, as coisas mudaram: Virgil Abloh substituiu Kim Jones à frente das coleções masculinas da Louis Vuitton, quando este foi nomeado diretor artístico da Dior Men. A linha de Kanye West nunca viu a luz do dia, mas fez parte do terreno fértil que elevou o streetwear a uma posição de luxo e fomentou o auge das colaborações. Já em 2017, Kim Jones se tornou um dos expoentes máximos da tendência quando, pela primeira vez, uma maison de luxo colocou o seu savoir faire ao serviço de uma marca street para uma coleção que revolucionaria os códigos: Louis Vuitton x Supreme.
“Adoro me rodear de pessoas criativas. Gosto muito de trabalhar em equipe, realça o melhor do meu trabalho”, garante sobre as colaborações que marcaram a sua carreira um Kim Jones apaixonado durante o seu discurso no Vogue Fashion Festival, a 15 de novembro. Sem ir mais longe, no início deste mês, a Dior apresentou a coleção cápsula que o diretor artístico das coleções masculinas havia criado para a Rimowa. Para não falar do rumor sobre uma colaboração entre a Dior e a Jordan que nestes dias tem corrido os círculos especializados em sneakers. Por enquanto, a casa francesa não se posicionou a esse respeito, mas a palavra colaboração é fundamental no trabalho de Kim Jones. "Adoro partilhar informação, conversar sobre criar e construir coisas", assegura com motivação.
É o caso dos seus desfiles, desde a sua chegada à Dior há um ano e meio, com uma primeira aliança com o artista americano Kaws. “Uma das razões pelas quais eu queria trabalhar com ele foi porque é muito popular. Christian Dior é a alegria de viver. Para lhe prestar homenagem, eu queria fazer uma estátua com as suas flores favoritas”, conta sobre a construção de 70 mil flores que presidiu o seu primeiro desfile à frente da Dior Men. A partir daí, cada estação contaria com o seu próprio artista. O japonês Hajime Sorayama para a coleção pre-fall 2019, apresentada em Tóquio; o americano Raymond Pettibon para o outono-inverno 2019/2020 ou a estética do nova-iorquino Daniel Arsham para a primavera-verão 2020. Olhando para o futuro, o britânico não dá nomes, mas sim uma pista: “A próxima coleção será realizada com um criador de joias e não com um artista.”
Tudo isto respeitando o património de uma maison histórica como a Dior e procurando conexões com o seu fundador. “Christian Dior trabalhou com muitos artistas populares como Picasso ou Dalí. Gosto de trabalhar com equipes e artistas diferentes, de diversas maneiras possíveis”, insiste, fascinado pela maneira como os artistas trabalham. "Na última coleção, eu estava à procura de ideias nos objetos do estúdio e da casa de Christian Dior", recorda, sublinhando a "importância de mergulhar nos arquivos da maison". Algo que não só o motiva, como se encaixa perfeitamente com o seu caráter de "colecionador". Uma paixão que o designer leva a sério, como refletem os seus milhares de vinis, certas peças icónicas de Vivienne Westwood ou um tapete desenhado por Francis Bacon, que compõem a sua coleção privada.
"A Dior é uma empresa muito diferente da Louis Vuitton"
Uma visão multidisciplinar e cosmopolita do mundo que remonta à sua infância. "Viajo desde os 4 anos, vivi no Equador... Sempre gostei de viajar e de me misturar com outras culturas", assegura o designer, com a ideia da viagem sempre presente nas suas criações. “Odeio aeroportos e os controles de segurança são a pior coisa do mundo. Sou muito prático, a funcionalidade é fundamental para mim e quero tornar as coisas mais fáceis”, diz para explicar a sua visão de menswear, mostrando-se aberto à reinterpretação dos seus próprios códigos. “Há uma parte do vestuário que apela tanto aos homens como às mulheres. Acho ótimo que as mulheres queiram vestir a minha roupa”, garante.
Uma abordagem à moda que o levou a substituir Kris Van Assche na primavera passada. “A Dior é uma empresa muito diferente da Louis Vuitton. Eu tinha opções diferentes na mesa, queria mudar. Falei com Pietro Beccari, que é meu amigo, e discuti com Bernard Arnault. No final, aceitei. A maison é icónica e, para um designer, é uma experiência incrível”, comenta. Na altura, muitos rumores do setor colocavam-no à frente da Versace. "Não vejo os meus amigos tanto como gostaria, porque viajo e trabalho muito, mas beneficio da experiência da Dior, do que as equipas partilharem e do que estou a aprender”, sublinha. E conclui com firmeza: "Escolhi a Dior porque é a referência da alta costura em França."
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