Kenzo: Nigo estreia com flores e finesse
A grande estreia desta temporada de moda masculina parisiense foi a de Nigo para a Kenzo, na manhã de domingo (23 de janeiro), e a primeira coleção do designer de culto japonês para a maison nascida no Japão foi certamente feita com finesse e flores.
As flores estão no coração desta marca, a mais memorável na mente popular com Kenzo Flower, cuja assinatura se fez sentir ao longo deste desfile.
Encenado mesmo ao fundo da rua da sede da Kenzo, no interior da mais bela passagem de Paris, a Galerie Vivienne de 199 anos, o desfile atraiu uma grande multidão de fãs da moda e influencers do Instagram. Que entraram num overdrive quando Kanye West e o seu parceiro de design Nigo, Pharrell Williams, chegaram, mesmo que por esta altura o par já pareça ser o rent-a-rappers da LVMH, uma vez que assiste a tantos dos desfiles do conglomerado.
Um outro frenesi ocorreu dentro da galeria, quando os paparazzi se esforçaram por fotografar as celebridades, e os seguranças lutaram para esvazir a passarela. Num gesto generoso, Nigo providenciou a todos os convidados um novo cobertor com o logotipo vermelho e branco, de que a maioria das pessoas precisava para se confortar. Apesar do frio, e mesmo usando uma máscara PPF8, ainda se podia discernir o cheiro doce da ganja à medida que a audiência se acalmava e os primeiros looks apareciam.
Nigo tocou inteligentemente em todos os temas clássicos de Kenzo. Começando com fabulosos casacos de manta em xadrez femininos e masculinos em um desfile de coautoria. Antes de mostrar partituras de flores; de jeans e lenços de pescoço com estampas ingênuas; botas de pele de bovinos funky; e gilets de seda encantadores para jovens senhoras cool.
O melhor de tudo: captou a forma como o fundador conseguiu incorporar a sensibilidade japonesa com o estilo parisiense, tal como na aplicação de múltiplas medalhas militares falsas nas peças. A mais encantadora loja de medalhas militares da cidade encontra-se a 100 metros de distância, no Palais Royal.
A tradição lúdica de Kenzo Takada também foi mantida em série de estampas de croquis de moda, e em todo o tipo de boinas, desde boinas de golfe a de artistas, passando pelas de militares dândis.
Nigo juntou-se a Kenzo com uma reputação de destaque, graças à sua insider marca urbana A Bathing Ape. Também fez coleções colaborativas com a Fendi e Louis Vuitton, marcas emblemáticas da LVMH. Foi Nigo quem apresentou Virgil Abloh a Michael Burke, levando à nomeação final de Abloh na Vuitton. E, com efeito, Nigo foi o primeiro DJ a lançar uma marca de moda credível, e assim o precursor de todo um movimento.
O antecessor de Nigo na Kenzo – o açoreano Felipe Oliveira Baptista – tinha sido criticado por te-la reduzido a uma marca de estampas de tigre, o grande felino tão onipresente em malhas. Mas o novo designer pelo menos levou o tigre para um sítio novo com casacos de basebol tipo couture e camisolas après-ski.
A maison de Kenzo já foi famosa pela sua alfaiataria, uma tradição perdida na última década. Por isso, foi admirável ver Nigo a relançar o Príncipe de Gales, ternos xadrez e com riscas. Por isso mesmo, escondeu a maioria em mini quimonos, o que não foi inteligente. Além disso, apresentou toda uma série de parkas acolchoadas – uma tendência terrível vista em muitos desfiles desta temporada – que resultou como uma ofensa aos direitos estéticos.
Fora isso, esta representou uma primeira e poderosa exibição de Nigo, que se inseriu no DNA da marca mesmo quando este lhe acrescentou o seu próprio toque de DJ. Talvez não tenha sido um home run, mas mesmo assim foi um grande começo.
Copyright © 2024 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.