François Henri Pinault fala sobre criar para uma nova geração de consumidores
A chave para ganhar seguidores leais na nova geração dos millennials - o mercado-alvo de todas as marca de moda - é a emoção, segundo François Henri Pinault, CEO do segundo maior conglomerado de luxo do mundo, Kering Group.
"Ao focar nos millennials, o ponto-chave é ser criativo. Essa é a nossa aposta. História e qualidade já não são suficientes. Esta geração quer mais que isso. Como resultado, a Kering precisava contratar um novo tipo de designer para abordar este novo paradigma da moda, declarou Pinault durante o Vogue Fashion Festival, em Paris.
"O perfil do designer mudou completamente. A visão de um luxo muito criativo, de mudar de idéia a cada temporada e coleção, já não é mais um modelo pertinente. Temos que levar os clientes em uma viagem com cada marca", insiste Pinault, que entende "um pouco" sobre contratação de designers.
Em apenas três anos, ele trocou o diretor criativo das marca de moda mais influentes da Kering: Gucci, Saint Laurent e Balenciaga, nomeando, respectivamente, Alessandro Michele (em janeiro de 2015), Anthony Vaccarello (em abril de 2016) e Demna Gvasalia (em outubro de 2015). Todos eles obtiveram sucesso imediato com a crítica e um êxito comercial maior ainda.
Para Pinault, a "viagem" também consiste em "desfiles, casting, publicidade e vitrines de lojas. O objetivo principal é ser consistente com a proposta criativa. Especialmente com o prêt-à-porter, que se tornou proporcionalmente mais importante em cada uma dessas marcas. Durante um painel de perguntas e respostas com Xavier Romatet, CEO da Condé Nast France, proprietária da Vogue Paris, Pinault insistiu que agora cada coleção deveria ser como "um capítulo no livro", acrescentando que um novo elemento-chave no prêt-à-porter é a "longevidade", o que implica em clientes vestindo roupas por muitas temporadas e apreciando muito mais o vintage.
Em seu ponto de vista, o consumidor moderno deseja acima de tudo uma "criatividade autêntica". "Precisamos inspirar um equilíbrio a longo prazo entre a criação, a emoção, e a história da marca. Isso é essencial", disse ele no Festival, que também incluiu conversas com designers como Gvasalia, Alber Elbaz e Karl Lagerfeld; e líderes executivos como Nadja Swarovski; Marie-Claire Daveu, da Kering, Bruno Pavlovsky, da Chanel, e Michael Burke, da Louis Vuitton.
Quanto ao digital, Pinault argumentou que existem dois aspectos importantes: o comércio eletrônico, e usar a Internet como a expressão de cada marca.
"É uma maneira de levar o nosso ponto de vista para as pessoas. Veja o que a Gucci fez com seus vídeos de eventos e como ampliamos a marca para esta nova era. Houve uma grande reação a essas histórias", disse o CEO, referindo-se a uma série de histórias de moda encomendadas pela casa. Do trabalho de Glen Luchford, "Wild Wonderland", a "Roman Rhapsody", de Mick Rock, inspirado em "Beggar’s Banquet".
Pinault, cujo pai François fundou o grupo de luxo com a compra da Yves Saint Laurent na década de 90, ressaltou que queria que cada marca atuasse como empreendedora. No entanto, ele deixa bem claro quem é o líder da Kering: "Temos uma estrutura muito flexível. O papel do grupo é servir, proteger, desafiar e, o mais importante, incentivar a assumir riscos em termos de criatividade... E quando é preciso escolher quem fará isso, sou eu a pessoa que toma essa decisão".
Quanto ao papel de uma corporação na sociedade, ele diz que "as marcas não podem ter um papel apenas econômico e financeiro - elas devem ser responsáveis. Desde 2007, nosso objetivo é ter um desenvolvimento sustentável tanto para o meio ambiente como para ter responsabilidade social. Para todas as nossas marcas, a idéia é que elas criem valores para a sociedade e nosso planeta". E observa que 93% do impacto da Kering no meio ambiente acontece fora de suas marcas, muitas vezes através de fornecedores, ressaltando que "é por isso que você tem que agir também fora da empresa”.
Um elemento-chave é o tratamento que Kering dá às mulheres. Ele pôde ser visto após a enorme repercussão que houve na mídia em março, quando um agente foi acusado de maltratar modelos durante um casting para a Balenciaga. “A situação das mulheres na nossa sociedade não é aceitável, especialmente no que diz respeito à violência. Estamos falando de metade da humanidade. Francamente, houve alguns incidentes que passaram dos limites, então decidimos dar um basta e cuidar do assunto nós mesmos", acrescentou, referindo-se à acordo conjunto que ele e Antoine Arnault da LVMH firmaram em setembro, prometendo parar de usar modelos menores de idade e abaixo do peso.
O bate-papo terminou com a seguinte pergunta de Romatet: “Para você, o que é mais fascinante nesta indústria? Qual a sua motivação?" E a resposta: "São os criadores, pessoas que enxergam algo que não enxergamos. São pessoas excepcionais, que precisam ser guiadas, pois não podem ser criativas do amanhecer até o anoitecer. É a interação com essas pessoas que me empolga todas as manhãs", respondeu um sorridente Pinault, reverenciado pelos aplausos dos 600 participantes.
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