Fashion Week: Milão quer passar uma mensagem positiva
Foi sob um céu cinzento que começou, na terça-feira (22), a Semana da Moda de Milão, que termina na segunda-feira, 28 de setembro, passando o bastão para Paris. Assim como o tempo instável alterna chuva e céu limpo, o programa desta fashion week dedicada às coleções femininas (mas também masculinas) para a primavera-verão 2021 evoluiu até ao último minuto... Não se deve, obviamente, esperar uma semana da moda normal.

Estamos, efetivamente, longe do frenesi usual. A inauguração, na noite de terça-feira, do Fashion Hub da câmara da moda italiana, espaço dedicado à criação jovem, chegou a proporcionar uma visão quase surreal. Nenhuma multidão correndo para a entrada como em fevereiro, mas apenas alguns convidados espalhados, passando pelo hall de entrada onde era medida a temperatura. Na recepção, todos preenchem um formulário com seus dados de contato e, em troca, recebem uma máscara biotecnológica da empresa italiana U-mask.
“Esta fashion week deve ser o exemplo que demonstra a nossa capacidade de nos adaptarmos a viver com a Covid-19 da forma mais inteligente”, disse o presidente da Camera della Moda (CNMI), Carlo Capasa, a um grupo de jornalistas. “Queremos provar esta semana que podemos seguir em frente apesar da situação. Espero uma energia positiva”.
E o dirigente detalha os padrões de segurança bastante rígidos impostos a todas as marcas que desfilam. No backstage, as máscaras são obrigatórias para todos, até à entrada na passarela, por exemplo. O distanciamento social deve ser aplicado. Os desfiles são abertos a um punhado de jornalistas e compradores, não mais do que 150 em média, enquanto várias grifes solicitam auto certificações para concederem acesso aos espetáculos.
“Certamente estamos atravessando um momento muito difícil, com queda de 25% a 30% nas vendas desde o início do ano. Mas, não podemos apenas cruzar os braços e esperar por uma vacina ou algo melhor. Temos que encontrar a força e os meios para conviver em segurança com o vírus. Não podemos parar. Pelo contrário, é o momento de preservar as nossas PMEs, nossos artesãos e nossos talentos emergentes”, acrescenta, lembrando que a moda é a segunda maior indústria do país, e a Itália o maior produtor de roupas da Europa, respondendo por 41% do volume de negócios, contra 11% da Alemanha e 8% da França.

Com a fashion week chegar ao seu ápice nesta quarta-feira (23), com desfiles como Fendi e Dolce & Gabbana, a presença de players da moda em Milão foi reduzida devido ao ressurgimento de novos casos Covid-19 em países vizinhos. As marcas até tiveram dificuldade em encontrar todos os modelos necessários para os seus desfiles...
Preocupação com a França
A França, em particular, é motivo de preocupação. O governo italiano decidiu na segunda-feira (21) exigir que todos os viajantes provenientes de várias regiões francesas testem negativo para o coronavírus antes de entrarem no seu território, forçando muitos jornalistas e compradores a desistirem da viagem.
“Estamos desiludidos, porque até domingo (20) à noite tínhamos recebido um número muito elevado de confirmações de franceses, muitos dos quais deviam chegar na terça-feira (22). Sabendo que os americanos e asiáticos não virão nesta temporada, estávamos à espera de europeus: alemães, espanhóis e franceses", lamenta Carlo Capasa. Longe dos milhares de visitantes habituais, apenas algumas centenas de pessoas são esperadas esta semana em Milão para assistir a 22 desfiles físicos, de um total de 64 inscritos no calendário, com a maioria acontecendo em modo digital.
Entre estes, a Versace, que inicialmente planejava um desfile físico, decidiu nos últimos dias desfilar sem convidados. Mas também a Prada, que optou por um evento digital, durante o qual será apresentado o trabalho co-criado por Miuccia Prada e Raf Simons, ou ainda Giorgio Armani, que também desfilará sem convidados com transmissão ao vivo pela televisão italiana.

Apesar da ausência da Gucci nesta temporada, Milão poderá contar com a Valentino, que depois de ter desfilado durante anos em Paris faz o seu grande retorno à capital da Lombardia. Entre apresentações, desfiles e projetos especiais, físicos ou virtuais, estão programados 159 eventos na plataforma da Camera della Moda.
“Felizmente existe o digital! Claro que não substitui os desfiles físicos, mas esta ferramenta tem ajudado muito o setor através do e-commerce, showrooms virtuais e divulgação das fashion weeks. Em julho, para a semana masculina, a nossa plataforma atingiu 15 milhões de visitantes em todo o mundo. Desta vez, contamos com 20 milhões”, indica Carlo Capasa, que também faz questão de destacar os vários eventos organizados em paralelo para apoiar a criação jovem.
Exemplo disso é o "Milano Moda Shoppable Project", organizado pela Camera della Moda e a loja de departamentos La Rinascente, inaugurado na manhã de terça-feira. Até 11 de outubro, a loja acolhe em seu novo espaço no quarto andar, dedicado a pop-ups e marcas contemporâneas, as coleções de treze jovens marcas italianas (Twins Florence, Drome, Nico Giani, Simona Marziali - MRZ, Iindaco, Vitelli, Blazé Milano, Act N°1, Marco de Vincenzo, Fantabody, Flapper | Genevieve Xhaet, Marco Rambaldi e Vìen). Estas estão também em destaque nas oito vitrines da Rinascente, localizada no coração da cidade, próximo à catedral.
Vários jovens designers italianos também conseguiram produzir suas coleções, organizar seus desfiles ou seus vídeos graças aos fundos arrecadados pelo Fashion Trust da Camera della Moda através do projeto TogetherForTomorrow lançado durante o período de confinamento.

Outras iniciativas são dedicadas aos talentos emergentes, como o showroom "Fashion Hub Market", que recebe sete marcas estreantes (Gentile Catone, Salvatore Vignola, DassùYAmoroso, Daniele Carlotta, Roni Studios, C'est la V, Francesca Marchisio), ou o desfile de moda Milano Moda Graduate consagrado aos alunos das principais escolas de moda italianas. A isso junta-se a seleção de seis marcas focadas em sustentabilidade, ou ainda o destaque da criação jovem húngara.
Mas, não é tudo. Pela primeira vez, a semana milanesa organiza um evento para apoiar designers de grupos racializados, em colaboração com o coletivo Black Lives Matter in Italian Fashion, apresentando o trabalho de cinco estilistas através do projeto de vídeo "We are made in Italy - The Fab Five Bridge Builders”, sob a supervisão dos designers Stella Jean e Edward Buchanan.
Por fim, após o incêndio que assolou Beirute em agosto, a câmara da moda também lançou "Spotlight on Lebanese Designers - CNMI in support of the new generation of Lebanese Talent", que permitirá que sete designers libaneses participem na fashion week através de conteúdos digitais.
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