Antes de mais nada, é necessário dizer que o Rio de Janeiro fica ainda mais bonito, se é que isso é mesmo possível, banhado pela luz outonal que baixou sobre a cidade nos últimos dias. Com temperaturas entre 15 e 20 graus, o tema dessa edição "friorenta" do Fashion Rio é  "Universo tropical". Sob a bênção de figuras emblemáticas do pop nacional, que foram homenageadas, e com a brasilidade em alta, a mostra ocupa um galpão do Píer Mauá. O temor de que as garotas que não gostam de saias longas e floridas ficassem sem ter o que vestir tinha tudo para se confirmar. Entretanto, o 1º dia tomou outra direção e equilibrou a oferta.

Alessa

"2012 Preciosidades" é o nome da coleção da Alessa, uma mistura de coisas que ela coleciona, segundo a divulgação da marca, e um apanhado de modelagens seventies recobertas de paetês e canutilhos na hora de cruzar a passarela. No momento, as enormes estampas digitais, as cores superlativas e os amplos vestidos e caftans da Alessa ganharam a companhia dos brilhos, também estes com o máximo volume.

 

Acquastudio

Em cena experimentações com a geometria, muitos cortes retos e sobreposições de tecidos leves. Também entram na receita os anos 1920, com cinturas baixas e franjas, os primórdios da arte moderna nos vestidos ecoando Mondrian e Picasso, e toda a base da modelagem, declaradamente apoiada na arquitetura Art Déco. Alguns belos vestidos garantiram a apresentação, um tanto rígida, e em cores pastel, da Acquastudio.

 

MelK-Z-Da

A base cultural forte, calcada em regionalismos, mas falando língua universal, tem garantido um lugar ao sol para o estilista pernambucano. Outro ponto forte é a opção por experimentar e correr riscos. Além destas qualidades, ele também é bom artífice e já trouxe intrincados trabalhos de trama e superfície para a passarela. No desfile, manteve o pique e misturou sem pudor, mas de forma consciente, plástico colorido com organza e seda, e empregou técnicas de cestaria para compor vestidos. Apesar do repertório inventivo, Melk-Z-Da parece aprisionado em si mesmo. Para outros, este estágio poderia ser o topo, mas para ele, que põe tanto em jogo, ainda há muito a ganhar ou perder.

 

Patachou

Boa apresentação da Patachou, driblando expectativas e surpreendendo mesmo sem se arriscar muito. As variações de vestidos camisa são ótimas. Têm a mesma linha clássica dos vestidos soltos na parte superior e ajustados levemente na barra. Um shape fácil, que fica elegante nos materiais moles, como sedas e cetins. O contraponto fica por conta de algumas formas armadas em piquê e outros tecidos com textura e estrutura. A estamparia é ambiciosa, tem motivos tradicionais de lenços, por vezes justapostos, e funciona melhor lado a lado com peças lisas. O ponto de partida também é o Deco, mais precisamente o Edifício Biarritz, que fica no Rio e é da década de 1940.

 

2nd Floor

Grécia e rock and roll em inesperada rota de convergência na 2nd Floor. O que poderia dar muito errado deu certo e rendeu aquela moda que é ágil e comercial. Ao pé da letra, a receita não vai muito além de drapeados discretos misturados ao jeans clarinho. Melhor assim. Daí por diante, a marca colocou em cena estampa floral em cores primárias sobre fundo preto, vestidos curtos em musseline e calças skinny. A cintura bem marcada nos conjuntos de saia e blusa, o corte godê, a camisaria e um pouco de alfaiataria, dão estrutura e alma urbana para a coleção. A marca ficou com a responsabilidade de fechar o 1º dia e deu conta da tarefa.

 

Fotos: © Agência Fotosite
Eduardo Motta