EFE
Novello Dariella
18 de mar. de 2020
Economia latino-americana pode cair até 2% devido ao coronavírus
EFE
Novello Dariella
18 de mar. de 2020
A América Latina teme que as consequências econômicas da epidemia de coronavírus reduzam a margem de crescimento da região em apenas 0%, podendo levar à uma contração de até 2% em 2020, segundo analistas consultados pela Efe.

O colapso dos mercados, as restrições de voos, cancelamento de eventos e perdas comerciais são os primeiros efeitos que o Covid-19 deixou após sua chegada à América Latina, onde também são esperadas as repercussões da guerra de preços no mercado de petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita.
“Pagar custos de curto prazo parece hoje uma escolha racional. Nesse cenário, a economia latino-americana crescerá muito abaixo do estimado inicialmente (1,6% segundo o FMI), e pode ser que a região cresça apenas um pouco acima de 0% até o final de 2020", alertou a Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban) em uma análise compartilhada com a Efe pelo secretário-geral, Giorgio Trettenero Castro.
O que mais preocupa é que a situação atual prejudique ainda mais a economia da Argentina, México e Equador ou acabe afundando Venezuela ou Cuba. Diante da situação, o Brasil anunciou um plano que inclui a injeção de 147,3 bilhões de reais na economia do país. No Peru, onde o turismo é um dos setores mais afetados pelo coronavírus, haverá prejuízo de pelo menos 100 milhões de dólares.
O Covid-19 e as pressões geradas pelos baixos preços do petróleo também provocarão dificuldades para manter a taxa de crescimento de 3,3% vista em 2019 na Colômbia, enquanto a inflação poderá acelerar à medida em que "a desvalorização aumentar o preço final de bens importados e insumos produtivos", disse à Efe Juan Pablo Espinosa, diretor de Pesquisa Econômica, Setorial e de Mercado da Bancolombia.
O governo paraguaio, por sua vez, está mais otimista e disse que o coronavírus não irá afetar sua economia. Ele manteve em 4,1% a estimativa de crescimento de seu produto interno bruto (PIB).
Previsões pouco encorajadoras
Com base em um modelo matemático, a Moody's Analytics alertou que a economia mundial entrará em recessão em 2020 em um cenário em que a taxa de mortalidade é de 3% e o pico de pessoas infectadas será atingido no meio deste ano. Segundo a agência, a economia latino-americana deve cair mais de 2% no ano, bem acima do estimado anteriormente, 0,2%.
"Infelizmente, as limitações significativas e a falta de preparação do sistema público de saúde aumentam o risco de acelerar a doença devido à sua fraca capacidade de combater o contágio viral", afirmou.
Estados Unidos e zona do euro sentirão o golpe
O JPMorgan Chase também não está otimista em suas previsões, pois estima contrações no PIB dos Estados Unidos e na zona do euro para o primeiro e o segundo trimestres do ano, o que pode levar a uma "nova recessão global”.
A instituição financeira calcula que o PIB dos Estados Unidos deve contrair 2% no primeiro trimestre e 3% no segundo, enquanto na zona do euro a contração seria de 1,8% e 3,3%, respectivamente.
Estratégia dos bancos centrais
Felaban explicou que, como vem ocorrendo desde 2008, "os bancos centrais do mundo ofereceram suas ferramentas de política monetária para responder a esse evento adverso inesperado que, sem dúvida, afeta a economia".
O maior exemplo na América foi o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, que lançou o maior pacote de estímulo monetário desde a crise financeira de 2008, com um corte repentino nas taxas de juros para quase 0% e uma injeção de liquidez no valor de 500 bilhões de dólares.
No caso da América Latina, Felaban destacou que "somente em fevereiro houve quatro casos de política monetária expansiva". Ele também enfatizou que "a política fiscal deve ser ativa para ajudar a reanimar a economia mundial", porque "se em janeiro de 2020 isso era assunto de debate, agora com a situação do coronavírus, sua necessidade parece imperativa".
O agravante do petróleo
As quedas atuais e históricas no petróleo devido à falta de um acordo em termos de produção estão prejudicando ainda mais as frágeis economias regionais, como explicou à Efe Sergio Olarte, economista-chefe do Scotiabank Colpatria, na Colômbia.
"Os países exportadores de petróleo foram afetados pela guerra de preços que a Arábia Saudita iniciou por não negociar com a Rússia, o que claramente afeta a economia e, em nossos cálculos, pode reduzir o crescimento mundial em meio ponto percentual até 2020, assumindo que os efeitos no preço do petróleo não durem até metade do ano", afirmou.
"O que vimos é que os canais de distribuição do mundo todo foram seriamente afetados, bem como a demanda por bens e serviços, o que afeta a grande maioria das matérias-primas, como cobre, prata e até ouro (…). No Peru, Brasil, Chile ou México, essa série de eventos levou a um grande choque de desaceleração econômica, o que pode fazer com que o crescimento dessas economias fique abaixo 1% este ano”, disse ele sobre o coronavírus.
"Será fundamental saber qual será o momento desse choque e, quanto mais tempo durar, os efeitos serão permanentes. Segundo nossos cálculos, esperamos que essa realidade econômica continue por mais dois meses até que haja uma recuperação da demanda externa”, comentou.
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