Reuters
Novello Dariella
27 de fev. de 2019
Economia brasileira quase parou no quarto trimestre
Reuters
Novello Dariella
27 de fev. de 2019
Gastos lentos dom consumidores e empresas, a incerteza em torno do novo presidente de extrema direita do país e a desaceleração do crescimento global levaram à uma forte desaceleração no crescimento econômico brasileiro no quarto trimestre, segundo uma pesquisa da Reuters com economistas divulgada na segunda-feira (25).

A recuperação da maior economia da América Latina este ano depende em grande parte da escala, escopo e velocidade das propostas de reforma previdenciária do presidente Jair Bolsonaro, que espera economizar mais de 1 trilhão de reais nos próximos 10 anos.
O controle do déficit de seguridade social no Brasil é fundamental para sustentar a confiança na economia, mas as incertezas no país e no exterior são tantas que a atividade no primeiro semestre deste ano pode ser tão lenta quanto no final do ano passado.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no quarto trimestre de 2018 provavelmente expandiu a uma taxa de 0,2% em relação aos três meses anteriores, de acordo com a estimativa de uma pesquisa feita por 25 economistas.
Isso marcaria uma desaceleração acentuada do crescimento de 0,8% no terceiro trimestre e um retorno à lentidão registrada nos três trimestres anteriores. Ou, em outras palavras, seria a leitura mais fraca desde que o Brasil emergiu da recessão de 2015-2016, uma das piores de sua história.
Em uma base anual, espera-se que a economia tenha crescido a uma taxa de 1,3%, inalterada em relação ao terceiro trimestre, de acordo com a estimativa média de 23 economistas.
Os dados serão publicados às 9h da manhã (horário de Brasília) da quinta-feira.
Os economistas do Barclays, cujas estimativas estão exatamente alinhadas com as duas médias, argumentam que "o crescimento mais fraco do que o esperado na produção industrial, nas vendas no varejo e nos serviços" irá reduzir os números do quarto trimestre.
"Percebemos algum risco de queda para nossa projeção de 2,5% para 2019, mas esperamos que os resultados do 4º trimestre ajustem nossas estimativas", disseram eles.
A estimativa mais baixa, de economistas do Citi, Santander, Standard Chartered e Safra Sarasin, foi de nenhum crescimento no quarto trimestre. A menor taxa anual de crescimento prevista foi de 0,9%, de José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator.
As estimativas mais altas para o crescimento trimestral e anual no quarto trimestre foram de 1,1% e 2,5%, respectivamente, ambas de Alexis Milo, do HSBC.
Olhando para o futuro, os observadores dizem que o crescimento do Brasil este ano será provavelmente impulsionado principalmente pela política monetária estimulante e pelo otimismo dos investidores, de que o Congresso não vai diluir muito as reformas na seguridade social de Bolsonaro.
Há um consenso entre economistas e participantes do mercado de que o Banco Central manterá sua taxa Selic básica em um recorde de baixa de 6,50% para o resto do ano. Se houver um movimento, os futuros da taxa de juros sugerem que é mais provável que seja um corte do que um aumento.
Os investidores estão adotando uma abordagem “copo meio cheio” para a reforma previdenciária. Embora reconheçam que as propostas do governo serão quase certamente diluídas, eles esperam que um pacote significativo seja aprovado. Os fortes fluxos para ações e títulos brasileiros neste ano até o momento atestam isso.
A reforma da previdência é o principal objetivo da agenda econômica do Presidente Jair Bolsonaro, que também inclui a redução de impostos e a privatização de uma ampla gama de setores.
Em sua primeira previsão oficial do impacto da reforma da previdência na economia, o Ministério da Economia disse, na semana passada, que o fracasso em aprovar qualquer reforma poderia levar o país à recessão no final de 2020 e à vários anos de contrações profundas.
Economistas consultados pela Reuters concordaram que reformas internas terão maior impacto na trajetória de crescimento do Brasil neste ano e no próximo do que fatores externos.
"O enorme desequilíbrio fiscal é o aspecto mais frágil da economia brasileira", disse Mauricio Nakahodo, analista do grupo financeiro MUFG, em São Paulo. "A reforma das pensões é o principal motor não só para o crescimento este ano, mas também para os próximos anos”.
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