Dior apresenta sua coleção masculina para o outono 2022 em Londres
Kim Jones regressou à sua cidade natal, na quinta-feira (9 de dezembro), com uma coleção Dior Men inspirada no romance do americano Jack Kerouac, "On the Road", considerado a sua obra-prima.
O livro, considerado a Bíblia da Geração Beat (um termo realmente inventado por Kerouac), tem inspirado os jovens a encontrar seu próprio zeitgeist por mais de meio século. E a sua prosa jazzy de alta velocidade foi a fonte de uma outra grande coleção, original e provavelmente influente para a maison Dior.
Para o outono de 2022, ele propõe uma mistura de estilo americano universitário com uma forte dose de elegância francesa, temperada com uma pitada de estilo urbano londrino. O desfile, realizado no enorme espaço envidraçado do Olympia, é o primeiro evento de Jones em Londres desde 2003.
À primeira vista, o estilo boêmio inquieto de Kerouac e a juventude mimada da pequena nobreza de Christian Dior parecem universos diferentes. Mas nas mãos de Jones, este tandem consegue alcançar uma simbiose e se reforçar para ser muito elegante.
“Na verdade, Kerouac escreveu 'On the Road' ao mesmo tempo em que Christian Dior estava revolucionando a moda e chocando as pessoas. É bom que essa perspectiva externa tenha se tornado tão importante com o Movimento Beat. Achei muito interessante que isso tenha acontecido em paralelo à evolução da maison Christian Dior ", explicou Jones ao FashionNetwork.com antes do desfile.
De origem franco-bretã, Kerouac publicou sua obra-prima em 1957, mesmo ano em que Dior morreu de ataque cardíaco. Christian era de origem nobre, mas abriu sua própria galeria de arte e viveu na companhia de artistas ao longo de sua vida. A família do pai de Kerouac cultivava batatas, mas seu talento o levou a passar a vida inteira cercado pelos grandes escritores Beat de sua época, como Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Gregory Corso, e grandes músicos do jazz da época, como Charlie Parker ou Dizzy Gillespie.
Kerouac escreveu as 250 páginas de "On the Road" em 20 dias, enquanto sua esposa lhe fornecia benzedrina, cigarros, café e sopa de ervilha. Ela colou os rolos de papel com fita adesiva para que ele pudesse satisfazer as suas sessões de escrita rápida. Jones prestou homenagem a ele com uma passarela gigante feita de uma cópia exata do rascunho original do livro, um enorme rolo desdobrando o texto.
E sobre o qual caminhou o primeiro modelo com um blazer perfeitamente cortado; shorts cáqui e camisa branca de algodão revestida com uma colagem maravilhosa de capas de livros de Kerouac e LPs falsos da Dior. Como em metade dos looks do desfile, os modelos masculinos usavam meias listradas e botas de caminhadas de estilo urbano. Seguiu-se um hipster beatnik com gorro de rasta volumoso, um suéter roxo e um casaco brilhantemente desconstruído, transformado um colete e um sobretudo na parte das costas.
Roupas masculinas em movimento, exploradores intrépidos em malhas listradas, calças com corte no tornozelo, blazers e jaquetas bomber de dois tons. As capas de outros romances, como "Big Sur", também apareceram em forma de gravuras mescladas com ideias do arquivo Dior. Uma jaqueta de couro pintada à mão fez sucesso, casaco "Visions of Cody". O look mais moderno foi feito de jeans japonês, combinado com fotos de Kerouac em San Francisco.
Todo o tipo de alfaiataria americana, e os ternos William Burroughs com um corte enviesado, "muito Dior", de acordo com um sorridente Jones, vestido em estilo universitário com um moletom Balenciaga e um gorro com o logotipo da Prada.
“É como se você carregasse uma grande mala quando viaja de carro”, acrescentou o estilista, orgulhoso proprietário de uma vasta coleção de primeiras edições de Kerouac; cartas do autor à sua mãe, nas quais descreve como iria escrever "On the Road", e uma de mãe para filho parabenizando-o por ter escrito o romance inovador.
Tudo foi exposto em uma grande instalação do Olympia, que contou com a presença de personalidades e dezenas de alunos da escola de moda Central Saint Martins, alma mater de Jones.
“Achei que seria bom se eles pudessem ver como se tem uma ideia para uma coleção e como direciona-la”, explicou Jones.
"Muitas das modelos do desfile leram "On the Road" antes de irem para o casting. Portanto, sua influência continua viva. Além disso, durante o confinamento, sonhávamos em viajar", disse Jones, que leu o livro no final da adolescência. Como Kerouac, ele fez várias viagens rodoviárias pelos Estados Unidos.
“Eu gostaria de fazer uma agora!”, brincou Jones, que trabalhou com a Fundação Kerouac nesta coleção.
Na noite anterior, a Dior organizou uma festa no espaço 14 Cavendish, uma mansão georgiana maravilhosa, com um delicioso caos no interior: tudo lembrando a Geração Beat, com móveis de meados do século; uma parede cheia de recortes de notícias sobre os Beatniks; coquetéis retrô; uma banda de jazz ao vivo e o DJ Paul Doherty tocando discos do Blue Note. Um cenário ideal, cortesia da produtora de grandes eventos, Robin Scott Lawson.
Após o desfile de quinta-feira, mais de 1.000 convidados desfrutaram de coquetéis clássicos americanos, como Old Fashioned e Whisky Sour, e um set da DJ inglesa Princess Julia. Antes que as luzes se apagassem novamente e Grace Jones se apresentasse para a reação extasiante do público.
O nível de ruído atingiu o seu ápice em mais um espetáculo de encontro entre a cultura francesa e americana, "La Vie en Rose". A canção icônica de Edith Piaf foi gravada por sete cantores americanos, de Bing Crosby a Louis Armstrong.
A amizade franco-americana no seu melhor.
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