Godfrey Deeny
7 de mar. de 2017
Desfiles de Paris: Haider Ackermann, de Nina Simone a Aulnay-sous-Bois
Godfrey Deeny
7 de mar. de 2017
Haider Ackermann nunca será um animal político, mas, assim como a maior parte dos grandes criadores, ele é totalmente consciente do mundo no qual vive e das suas lutas.
Com suas modelos a portar vestidos justos – pretos com uma linha dourada atravessada como se houvesse um vazamento no corpo, ele ofereceu uma abertura pungente a um desfile com cortes rigorosos e estilosos. Como fundo sonoro, Simone cantava "Freedom is no fear".
Em termos de estilo, muitas peças estavam cobertas de motivos quadriculados como uma teia de aranha, quase sempre dourados, e num caso preto em um terninho azul elétrico. Para conferir mais charme, suas modelos haviam adotado um corte tigela, tendo seu rosto em parte escondido por um véu ligado à orelha.
Haider Ackermann domina muito bem os cortes, com túnicas e boleros perfeitamente ajustados, e sua mão é tão sutil que as roupas parecem quase orgânicas.
Ele impressionou também com calças de plumas de marabu brancas usadas juntas com peças masculinas oversized, ou ainda com imponentes sobretudos militares com dez botões. De forma contrária à sua eclética coleção masculina de rocker dandy realizada para a Berluti, que transbordava cores, este desfile feminino foi quase inteiramente permeado pelo preto.
A ausência da paleta hiper original do criador, com seus dourados polidos e seus vermelhos-fogos, se fez sentir. No entanto, o evento marcava também uma sutil mudança de relação para o criador, cujas competências em matéria de costura correspondem cada vez mais à sua técnica reconhecida no drapeado.
Caroline de Maigret, Clotilde Courau, Lou Doillon e Marisa Berenson estavam presentes – destacando o crédito de Haider junto às vedetes, assim como às elegantes. O "It guy" Gabriel Day-Lewis – filho de Daniel e Isabelle Adjani – prometeu também a Haider uma cópia prévia do seu novo álbum.
"Há tantas coisas que se passam lá fora, além dessas portas. Fiquei muito emocionado com o que eu li a respeito desse homem negro que foi violado pela polícia. Também com o que se passa na América. E é uma mensagem que eu quis passar. Tenho grande admiração pelas pessoas que defendem seus direitos", explicou Haider Ackermann, que nasceu na Colômbia, mas cresceu na Bélgica.
"Nina Simone foi uma das primeiras militantes pelos direitos do Homem, é por isso que eu só quis prestar homenagem a essas pessoas com calma, para seguir sereno. Poder ver essas mulheres negras diante de nós foi uma coisa bonita e cheia de dignidade", concluiu o criador.
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