Godfrey Deeny
26 de mar. de 2021
Comme des Garçons e Noir Kei Ninomiya: duo do universo dickensiano com sonhos gelados
Godfrey Deeny
26 de mar. de 2021
Ninguém poderia jamais culpar Rei Kawakubo por falta de visões. Na estação aparentemente permanente de desfiles globais deste ano, a coleção de Rei Kawakubo para a sua maison Commes des Garçons (CDG) foi a mais recente, e não menos importante.
As últimas ideias da designer de moda japonesa Rei Kawakubo para a Comme des Garçons divulgadas na terça-feira (23 de março), em um vídeo para jornalistas e amigos transformaram Charles Dickens em um grandioso fantoche.
O "espectáulo" foi encenado na semana passada em Tóquio para alguns amigos, no interior dos escritórios da CDG; marcando o último momento em que Kawakubo conseguiu cruzar a moda para o mundo das belas-artes.
Suas incríveis Amazonas emocionaram em gigantescas capas de penas sobre hectares de tule enrugado em formas de cisne; ou imensos casacos de bolha em cacos retorcidos de seda.
Gigantescas batinas sacerdotais usadas por cima de leggings e botas de pele de bovino; com uma enorme cauda de tule presa. Caudas brancas de Ringmasters cortadas em em moletons; nuvens celestes de algodão drapeadas, criando mangas com 60 centímetros de largura. Jovens baronesas românticas em kilts preto e branco sobre leggings grafitadas.
Uma paleta de tonalidades preto, antracite e branco. Tudo baseado na coleção de tênis de vanguarda Salomon x CDG.
“Em meio ao transbordamento incessante de coisas diversas, o dilúvio de cores, a inundação de sons e de informações...Eu precisava respirar fundo na serenidade monocromática”, explicou Rei Kawakubo, que vive entre Tóquio e Paris.
Os modelos imponentes ostentavam chapéus de coveiro vitoriano, com recortes comidos por traças ou cobertos de teias de aranha, em uma grande exibição de Ibrahim Kamara – estilista britânico natural da Serra Leoa, editor-chefe da Dazed, que Rei Kawakubo convidou para a produção.
Noivas de Funkenstein encerraram o show em gigantes e vaporosas vestes de tule. Perturbadoramente belo; intensamente original - nasce uma terrível beleza.
O seu protegido e ajudante Kei Ninomiya seguiu esse ato difícil de superar a mestre com uma exibição ainda mais intensa de moda com a sua marca Noir Kei Ninomiya. Não por acaso, os dois links do programa foram enviados no mesmo e-mail.
Modelos de aparência deliciosamente temperamental, com o cabelo grudado em todo o crânio, um trabalho artístico do cabeleireiro Asashi, desfilando em vestidos grandes e cascatas intermináveis de amostras de tecido. Os suéteres clássicos de Aran - a malha irlandesa que os estilistas japoneses adoram há muito tempo - se misturavam em formas robustas, como armaduras maleáveis.
Mesmo que o estilista japonês parecesse ter trocado a ordem do espetáculo, começando com um robe cerimonial de rainha da era espacial de cristal e metal; seguida por vestidos metálicos de forma globular para uma rave aristocrática intergalática. Até mesmo um perfecto recebeu uma reforma futurista, fazendo sobressair as suas mangas pontiagudas, brilhando na semi escuridão deste show.
Não é à toa que o designer tenha chamado a coleção de "Metal Couture".
Como de costume, nenhum dos designers veio receber aplausos. Tudo dito: dois momentos sombriamente gloriosos, que capturaram em termos visuais a inquietação deste túnel sem fim de uma pandemia que se arrasta e ameaça com a mutação de vírus.
Copyright © 2024 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.