Balenciaga desafia limites da realidade com coleção grunge e anos 90
Não satisfeito com ter conquistado a atenção da mídia internacional transcendendo as fronteiras da própria moda, graças à apresentação da sua última coleção com a projeção de um episódio de 'Os Simpsons', a Balenciaga experimenta mais uma vez o potencial de criar narrativas paralelas à realidade para revelar a sua proposta para o próximo o outono-inverno 2022. Intitulada "The Lost Tape", a coleção foi lançada na quarta-feira (8 de dezembro) sob a forma de um curta-metragem dirigido pelo cineasta americano Harmony Korine – conhecido por filmes independentes como "Gummo" e "Spring Breakers". E tornou-se a primeira que o designer Demna Gvasalia assina o nome "Demna". Segundo um comunicado da maison, é assim que o georgiano será referido a partir de agora a fim de "separar a sua obra criativa de sua vida privada".

Uma videocassete com o título e a data de apresentação serviu de teaser para a coleção, antecipando perfeitamente o fio condutor comum que marcaria as novas propostas da maison propriedade do grupo de luxo Kering: uma nostalgia radical dos anos 90. Com este período em mente, o vídeo da coleção, apresentado presencialmente à imprensa e compradores emformato de showroom a partir do seu escritório na Rue des Sèvres, em Paris, na quarta-feira (8), optou por adotar uma estética visual analógica para representar um desfile de moda fictício.
Um desfile que recebeu os seus convidados nos bastidores ou na primeira fila, orquestrado pelo próprio Korine com a ajuda de Demna. Um desfile de moda como nunca aconteceu... ou talvez tenha acontecido. Porque é nisso que a Balenciaga está apostando. Depois de ter anunciado a criação de um departamento dedicado ao Metaverso no início deste mês, será que a celebração de um desfile de moda precisa responder aos cânones e canais convencionais para que o público considere que realmente foi realizada? A Balenciaga colocou mais uma vez os seus leais fãs no papel de observadores de um evento, questionando mais uma vez como a moda é abordada ou consumida em um mundo dominado por telas.
61 looks foi fotografados por polaroids, fiéis à estética vintage. A Balenciaga aposta no preto com uma proposta praticamente monocromática que faz lembrar o pós-grunge (em outras palavras, um grunge mais viável comercialmente). Um vestuário típico da estética "rave", no qual se destaca o gosto pelo couro, presente em saias compridas com corte em evasê, casacos largos com ombros estruturados, um modelo com detalhes acolchoados, ou calças largas de motociclista onde se integram as botas XXL, que também encontraram o seu protagonismo em pares extra longos estilo mosqueteiro ou na sua versão à prova de água para a chuva. Em linha com o compromisso da marca com a sustentabilidade, esta coleção apresenta 89,6% de tecidos sustentáveis certificados, bem como peças como o couro reciclado.

As ombreiras exageradas características do estilo do designer georgiano repetiram-se em longos e elegantes casacos de lã, bem como em vários casacos com mangas delicadamente torcidas ou em casacos de tamanho exagerado usados do avesso, que fecham nas costas. A coleção foi completada por calças sob medida, bem como calças urbanas e várias reinterpretações do modelo jogger.
Em um nível mais sofisticado, a Balenciaga ofereceu vestidos drapeados assimétricos ou túnicas de franjas fluidas com logotipos ton sur ton, bem como construções de vestidos e tops de lingerie em branco e azul celeste. Os grandes volumes e os detalhes de couture aparecem em um longo casaco de couro ou em um imponente, quase aristocrático anoraque com uma cauda com a forma de laço que se desenvolve desde uma abertura zipada nos ombros, na parte de trás. O jeans tornou-se o tecido obrigatório da coleção, em diferentes tonalidades e lavagens, declinado em casacos largos e calças rasgadas.

Por sua vez, o toque de cor é visto em um enorme casaco de pele verde neon sob um moletom de capuz. Uma gabardina branca leve, dois casacos longos inspirados em roupões de banho, bodies de manga longa ou camisetas da proposta “underwear”, entre outras de manga curta com pequenos logos no centro do peito complementados por acessórios com pingentes de chave, brincos em forma de dedal, óculos futuristas ou bolsas trançadas.
"Penso que este show muda a vida. Está completamente em outro nível", comento a modelo Naomi Campbell, no final do desfile fictício, partilhando com outros VIPs (como Isabelle Huppert, Susanne Bartsch, Esther Cañadas, Cathy Horyn, Diane Pernet, Renata Litvinova) a convicção de que a moda digital não só veio para ficar como parece ser convincente.
Copyright © 2023 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.