Apesar da pandemia, Semana da Alta-Costura de Paris prepara seu renascimento
Com ou sem pandemia, a Semana da Alta-Costura de Paris - a expressão máxima do luxo da moda - começa nesta segunda-feira (25) na internet. Quase 30 marcas vão disputar a atenção das mulheres mais bem vestidas do mundo.
E apesar daqueles que preveem ano após ano a morte iminente da alta-costura, a programação oficial de quatro dias do evento inclui uma grande variedade de marcas de luxo e novos talentos tão empolgantes quanto inesperados. A Semana da Alta-Costura de Paris começa segunda-feira, às 10h, com a Schiaparelli, e termina na quinta-feira, às 16h, com a estreia da estilista Sterling Ruby, de Los Angeles. A temporada inclui gigantes do luxo como Chanel, Christian Dior, Giorgio Armani e Valentino, mas também marcas mais sofisticadas, como Charles de Vilmorin, Alexandre Vauthier e Julie de Libran.
Dois outros eventos estão sendo muito aguardados pela imprensa: a estreia de Kim Jones na Fendi, marca romana especializada em pele, e AZ Factory, que marca o retorno de Alber Elbaz, ex-estilista da Lanvin, à moda. Para cumprir as medidas sanitárias em vigor - que proíbem qualquer reunião em Paris - a temporada acontecerá exclusivamente online, ainda que algumas marca estejam organizando apresentações "phygital". O desfile de Armani, por exemplo, será realizado de portas fechadas no Palazzo Orsini, uma das mansões do estilista em Milão.
Há dez anos, apenas cerca de vinte marcas apresentavam suas coleções durante a temporada , que durava três dias, o que atesta a vitalidade renovada da alta-costura, segundo Ralph Toledano, presidente da Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM), órgão regulador da moda francesa, que controla o acesso ao calendário oficial das seis temporadas de desfiles em Paris.
“Existem vários fatores que explicam a força atual da alta-costura. Primeiramente, com o surgimento de novas grandes economias, da Rússia à China, há muito mais clientes potenciais e pessoas ricas do que há dez anos atrás", analisa Ralph Toledano.
“O segundo fator é que para as grandes grifes francesas, como Chanel ou Dior, ter uma grande divisão de alta-costura é muito importante em termos de estratégia geral, o fato é que suas atividades de alta-costura cresceram muito. Estas duas maisons, entre outras, vêm contratando muitas pessoas há dez anos. E estão ganhando dinheiro, ao passo que, em um determinado momento, a alta-costura se tornou uma espécie de exercício de marketing”.
O terceiro fator data de mais de 25 anos, quando as leis que regulam o número de funcionários e o tamanho das oficinas de costura foram radicalmente revisadas e relaxadas, sob a liderança de Dominique Strauss-Kahn, então Ministro da Indústria. Uma reforma que permitiu à várias marcas jovens com recursos financeiros modestos entrar no mercado.
“Essas regras não eram modificadas desde 1945. Essas mudanças reduziram consideravelmente os obstáculos para as marcas que querem entrar para o calendário oficial”, indica o presidente da FHCM.
Nesta temporada, duas marcas estarão ausentes: a britânica Ralph & Russo e Elie Saab, do estilista libanês homônimo que não pôde gravar o vídeo de sua coleção devido à pandemia, sendo o impacto da crise de saúde particularmente forte no Líbano.
Mas outras marcas estão intensificando seu compromisso com a alta-costura. Como a Fendi, uma empresa centenária que só organizou seu primeiro desfile de alta-costura em 2015, quando Karl Lagerfeld dirigia seu estúdio criativo. Até o momento, a Fendi só tem apresentado sua coleção de alta-costura uma vez por ano, em julho. Agora, sob a direção da designer Kim Jones, recentemente nomeada diretor criativo, a marca romana também vai apresentar uma coleção em janeiro.
A entrada oficial na alta-costura é uma estrada sinuosa, que requer a aprovação prévia de um comitê da FHCM formado por executivos de marcas conceituadas e especialistas em moda. Mas nas últimas duas décadas, esse círculo restrito foi ampliado para incluir talentos estrangeiros, do modernismo clássico da Armani à vanguarda da designer holandesa Iris Van Herpen, e à marcas mais conceituais como Maison Margiela ou Aganovich.
“Para entrar no calendário é importante que o jovem candidato demonstre sua capacidade de se tornar um grande costureiro. Qual estilista não gostaria de se aventurar na alta-costura se tivesse a oportunidade? Trabalhamos com os melhores artesãos do mundo, com os melhores tecidos e temos carta branca, porque a alta-costura é o laboratório da moda. O que mais podemos esperar?”, conclui Ralph Toledano.
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