A moda renasce em Milão
A Semana da Moda de Milão terminou na segunda-feira (28) com um balanço mais do que honroso. A Câmara da Moda Italiana (CNMI) mostrou a sua capacidade de gerir o evento com toda a segurança sanitária, organizando uma semana que marca efetivamente a entrada da moda em uma nova era. Ela também ofereceu a todos os players do mercado, presentes em Milão ou que acompanharam o evento virtualmente, a doce sensação de um retorno à normalidade.
Primeiro ponto positivo: é a primeira vez que uma fashion week apresenta um impacto ambiental tão baixo. Nunca o centro de Milão esteve tão fluido em tal período. Tráfego zero, sem agitação, sem histeria. São muito os que admitem, disfarçadamente, que "desta vez foi muito melhor". Aproveitar para apreciar um desfile, sem sair correndo para o próximo, aproveitar o momento de convívio, compartilhar emoções com uma comunidade... Estas foram as novas sensações que esta semana milanesa ofereceu, não sendo menos densa por isso.
Com 21 desfiles físicos em cinco dias (em comparação com 19 em oito dias para Paris) e diversos encontros e apresentações paralelas, que contaram com um grande público graças à maior disponibilidade de compradores e da imprensa, mas também graças ao digital, o evento deu, paradoxalmente, a impressão de ser mais rico do que no passado.
“Considerando, claro, a situação atual, tudo correu muito bem. Queríamos mostrar ao mundo que é possível continuar, convivendo com o vírus, e conseguimos. Estes desfiles mostraram a resiliência das marcas e empresas italianas, que conseguiram adaptar-se apesar das enormes dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19”, comentou o presidente da Camera della Moda, Carlo Capasa.
“Muitas pessoas nos parabenizaram, dizendo que se sentiram seguras em todos os momentos em Milão graças às medidas adotadas”, acrescentou, destacando também “o incrível impacto que o digital teve, com mais de 20 milhões de visitantes online". Algumas centenas de jornalistas puderam fazer a viagem (contra alguns milhares habitualmente), principalmente alemães, espanhóis, ingleses, suíços e escandinavos, mas também alguns japoneses e muitos russos.
De acordo com os primeiros números divulgados pela Câmara da Moda, a sua plataforma digital registou nesta fashion week um salto de 125% em relação à semana milanesa masculina de julho, em termos de público. Ela gerou 825.552 visualizações diretas, enquanto o seu espaço “Live Room” hospedado pela gigante chinesa Tencent registou 26,1 milhões de visualizações.
Desfiles ao ar livre
As marcas competiram em termos de imaginação para garantir a segurança dos seus convidados e das suas equipes. Um grande número de desfiles foram organizados ao ar livre, sob as arcadas dos majestosos pátios de muitos palácios milaneses, e em seus jardins, ou até mesmo na rua, como o de Marco Rambaldi na Via Lecco, ou então no fundo de uma piscina ao ar livre para a Sunnei.
Na maioria das vezes, as marcas distribuíram máscaras e respeitaram rigorosamente as distâncias entre cada espectador. O distanciamento não significava, no entanto, salas vazias. A Dolce & Gabbana, que acolheu um terço da capacidade habitual no seu teatro, teve, por exemplo, 350 convidados. E, em todo canto, tínhamos a sensação de assistir a um desfile normal.
“Estes desfiles fizeram sentido e acho que isso deveria ser repetido. Na minha opinião, os vídeos digitais não deixam a desejar. É certo que Milão estava meio deserta, mas já esperávamos isso. Sabemos que nos espera outro ano idêntico”, disse Riccardo Grassi, diretor de seu showroom homônimo. Em comparação com julho, o distribuidor de moda italiano duplicou o número de visitantes da sua plataforma online com esta fashion week, mas fisicamente o seu showroom teve 90% menos visitas em comparação com o inverno passado.
Beppe Angiolini, proprietário da loja Sugar, em Arezzo, também mostrou a sua satisfação por esta semana phygital, que considerou bem equilibrada entre eventos físicos e digitais. Alguns deixaram a sua marca e alimentaram discussões junto das passarelas, como a ansiosamente esperada Prada, com Raf Simons pela primeira vez ao leme ao lado de Miuccia Prada.
“O momento é especial e, diante dos desafios, nem todas as coleções foram de primeira categoria, mas comprei muito”, afirmou o varejista. “É verdade que o impacto do confinamento foi sentido em algumas coleções produzidas com menos recursos e tempo".
No geral, os criadores milaneses voltaram à uma moda essencial e concreta. Uma veia minimalista atravessou grande parte dos desfiles com inúmeros total looks e roupas monocromáticas em tonalidades sorbet ou neutros. A ênfase foi colocada em algumas peças essenciais, como o terno, o vestido de alças finas, a camisa masculina, os calções, a saia.
Vale destacar o uso, principalmente, de tecidos técnicos, como o nylon, ou de materiais clássicos como o algodão e a seda, além da presença abundante de malhas e rendas. Por outro lado, os estilistas fizeram pouco uso de estampados ou decorações. Com exceção das plumas, que foram utilizadas para embelezar certos looks, como que para lançar um apelo urgente por leveza.
Mais do que com designs e estampados, os estilistas brincaram com desenhos gráficos ou estampas geométricos, como bolinhas ou o xadrez. Outra grande tendência foi o patchwork, com a ideia subjacente de economizar e reciclar utilizando as sobras de tecido disponíveis. A Dolce & Gabbana construiu uma coleção inteira sobre este tema.
Além disso, não escapou a ninguém que muitas marcas recorreram a modelos de todas as idades e tipos, incluindo modelos plus size, como a Fendi e a Versace. No fim das contas, Milão teve direito a uma fashion week verdadeiramente responsável.
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