A moda rebelde da Maison Margiela
Maison Margiela apresentou um desfile de moda híbrido e lançou uma nova fragrância na manhã de quarta-feira, durante a Semana da Moda de Paris. Uma declaração de moda em sintonia com os tempos, transgressora e sem gênero, e um lembrete da capacidade da moda de defender novas formas de pensar, apoiando suas causas.
Tanto o desfile quanto o perfume foram nomeados "Mutiny" ("Motim"), e tanto o elenco escolhido assim como a moda sem gênero podem definitivamente ter parecido um ato de rebeldia para os olhos dos mais conservadores.
Antes do desfile, um ótimo vídeo em preto e branco (o último podcast de Galliano para a maison) foi projetado nas paredes brancas do Grand Palais. Seus protagonistas foram Willow Smith, a cantora Princess Nokia, a modelo Molly Bair e a modelo Hanne Gaby Odiele, o famoso ícone intersexual.
“We're willing to endure pain” (Estamos dispostos a suportar a dor), "I can break rock, I'm that strong” (Eu sou tão forte que posso quebrar pedras), eram alguns dos slogans que podiam ser lidos nos gráficos punk do vídeo. Então, o desfile começou: jaquetas e ponchos de feltro com corte brilhante, com todos os tipos de inserções cortadas a laser, jaquetas de tweed em espinha de peixe deliberadamente sujas e impressionantes; fluidos ponchos trench oversized.
Além disso, todos os acessórios foram surpreendentes, desde os chapéus gigantes com inserções, as botas de cowboy com recortes, e as lindas sandálias com plataforma de couro branco que exalavam o DNA da Margiela.
Tudo isso poderia ter parecido um pastiche político, mas graças aos cortes extraordinários, às proporções inovadoras, à encenação inteligente, e aos toques iconoclastas do diretor criativo John Galliano, foi de fato um belo espetáculo.
É verdade que muitas vezes era difícil ter certeza do sexo exato de cada modelo. Era um homem ou uma mulher usando o casaco longo de smoking? Ou a incrível combinação de legging azul-turquesa, botas de caubói, paletó de tweed com uma enorme gravata jacquard de estampa floral - menino ou menina? Uma de meia dúzia de gravatas enormes foram o lema desta coleção mista. Moda híbrida para pessoas híbridas.
“Explorar caimentos, corte e drapeados sem considerar o gênero, para guarda-roupas de mulheres e homens”, explicava a nota do programa. Houve um enorme aplauso no final, tanto pela causa quanto pelas roupas. Galliano, como é costume desde que ingressou na Margiela, não saiu para cumprimentar o público ao final do desfile.
Depois do desfile, uma enorme tela de LED em um caminhão em frente ao Grand Palais projetou a campanha do novo perfume, um exemplo brilhante de street marketing.
Galliano certamente não é o único designer a explorar os limites da moda sem gênero. Alessandro Michele, por exemplo, também tem sido muito ativo nesse quesito. Mas os experimentos estilísticos do inglês foram realizados com um carinho e uma curiosidade pelo assunto que fez deste um momento verdadeiramente admirável. A moda cumprindo uma função social muito útil, e com uma ótima aparência também.
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