
Dominique Muret
6 de mar. de 2015
A Fashion Week de Milão se regenera

Dominique Muret
6 de mar. de 2015
Abençoada por um incomum bom tempo neste fim de fevereiro, a Fashion Week de Milão voltada às coleções femininas para o outono-inverno 2016 chegou ao seu termo na última segunda-feira (02) com um sentimento positivo.
“Melhor que o previsto” é a impressão que se destaca no término de uma semana carregada, percorrida por uma incomum energia com uma nova onda de criadores e uma renovação em curso dentro das grandes grifes italianas. Um rejuvenescimento que, aliás, se podia perceber nas coleções que pareciam endereças a mulheres cada vez mais jovens, quase meninas...

Programada para decorrer de 25 de fevereiro a 2 de março, com seis dias cheios, ao contrário da semana reduzida da temporada passada, esta edição pareceu bastante equilibrada com 151 coleções dentre as quais 68 desfiles oficiais, aos quais se juntaram uma verdadeira sucessão de outros espetáculos fora do calendário, e mais de 80 apresentações, sem contar os inúmeros eventos paralelos.
“Foi uma excelente semana, que se desenrolou com um clima de grande otimismo, em particular graças à taxa de câmbio entre o dólar e o euro muito favorável às empresas italianas, o que teve efeitos imediatos sobre o nosso mercado”, comenta o presidente da Camera della Moda, Mario Boselli.
“Milão, que costuma ser menos glamorosa em relação a Paris, me pareceu mais especial e internacional com propostas mais corajosas, peças importantes com acessórios muito mais fortes. A mulher que se esboça para o inverno 2016 é prolífica”, sublinha Beppe Angiolini, titular da butique Sugar em Arezzo. E o comprador conclui: “Nós estamos muito contentes com esta atmosfera positiva. Contudo, não estamos pensando em dobrar nossos orçamentos!”
Dentre as impressões colhidas junto ao salão de pesquisa White, foram principalmente os compradores italianos que investiram em Milão, já que muitos compradores internacionais deixaram de conferir os eventos da capital lombarda para se dirigirem diretamente à Paris, sem falar de outros, como os Russos, que diminuíram fortemente seu comparecimento.

Lentamente, mas com segurança, a moda feminina está evoluindo, deixando de lado excessos e artifícios para se dirigir ainda mais ao essencial. Decorações, estamparia e fantasias não parecem ser mais do que uma lembrança. À exceção dos desenhos dos tecidos preciosos, tais como os brocados ou os tecidos damasquinos, ou os ricos bordados.
De qualquer forma é uma mulher prática e bem centrada no mundo real que se anuncia para o inverno 2015 (aqui no Hemisfério Sul, inverno 2016). Ela chega de óculos, sapatos baixos e com vestuários antes de tudo confortáveis e multiusos, que caem muito bem tanto de dia como de noite.
Sem mais roupas fru-fru e sexy. Há agora espaço para as cores clássicas mais sóbrias, tendo o negro como vedete, ou para os monoblocos de cores. Os looks total color são onipresentes, da cabeça aos pés, passando pelos acessórios.
O estilo que se destaca das coleções é, de maneira geral, mais austero, centrado no conforto antes de tudo, com formas oversize e materiais cálidos. O filão masculino se inscreve uma vez mais idealmente nesta veia. Mas, desta vez, não se trata mais simplesmente de emprestar alguns vestuários do guarda-roupa dos Senhores. É o estilo masculino em toda parte que se atira nas passarelas, na escolha dos materiais e nos volumes, indo até uma mistura dos gêneros masculino/feminino ainda mais radical.

Tweed, padronagens pé-de-galinha, chevron, príncipe de Galles... Sem que nos esqueçamos do xadrez ainda presente com força num bom número de coleções. Os tecidos do típico vestuário masculino são usados por muitos costureiros. O sobretudo maxi, o casaco longo, o terninho são as três peças incontornáveis que deverão figurar no novo guarda-roupa invernal.
A Gucci, que marcou um dos grandes momentos desta semana, com o início do novo diretor criativo Alessandro Michele, lançou o movimento no primeiro dia dos desfiles, levando o discurso ao extremo, com uma mulher andrógina e um vestuário resolutamente unissex. Confirmando a tendência que havia emergido em janeiro passado durante a Fashion Week dedicada aos homens, com uma mistura ainda mais pronunciada entre os dois sexos. Giorgio Armani, por exemplo, consagrou toda a sua coleção às calças.
Este estilo masculino reforça, por um lado, o caráter forte da mulher do novo milênio, ao mesmo tempo que lhe serve de baluarte. Volumes mais amplos e longos (as saias retas ou com revestimentos descendo até o tornozelo estão em toda parte) não servem somente para parecer mais forte.
O que melhor que um sobretudo enorme para se proteger do grande frio..., mas também das situações adversas? O colo, por exemplo, está muito mais escondido pelos golas altas ou por lenços com nós à moda Robespierre. Quanto aos braços, estes encontram-se encerrados em grandes luvas. As pernas estão também encobertas, aprisionadas em intermináveis botas de cano longo.

Esta necessidade de proteção também se traduz num certo estilo cocooning que parece invadir as coleções. Assim, pudemos ver doudounes Bibendum, vestidos acolchoados e, principalmente, aconchegantes sandálias-chinelos forradas com pelos longos, que se anunciam como o verdadeiro hit do inverno 2016.
Outro paradoxo e não dos menores: o regresso com força do rosa, símbolo de uma feminilidade que acreditávamos haver sido esquecida...
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