Prada: moda, outra maneira de fazer política
Embora o desfile de Prada na noite de quinta-feira tivesse como finalidade vender roupa, também conseguiu transmitir uma mensagem política. Numa altura em que as questões políticas estão no centro de todos os debates na Itália, com um novo governo ferozmente decidido a fechar as suas fronteiras aos refugiados, esta coleção foi simultaneamente uma clara mensagem política e uma declaração estética.
A estratégia de Miuccia Prada foi clara: pegar em referências burguesas clássicas e subvertê-las com padrões, tecidos, imagens e estampados improváveis.
Miuccia fundiu tie and dye e estampados psicadélicos com fotografias da campanha e imagens de homens e mulheres nus em casacos, vestidos e saias de ténis muito apropriados, rompendo todos os clichés do que supostamente seria um guarda-roupa clássico.
A criadora integrou uma boa quantidade do vistoso nylon que é a sua marca registada, mas mais uma vez subvertido pela escolha de cores (sorvete, limão verde ou cobre) e associado a calções em cetim e sandálias elásticas desportivas, ao estilo grego. Um quarto das modelos usava óculos de sol em forma de olhos de mosca, mas decorados com pétalas de plástico. Outras tinham fitas de cabelo falsas na cabeça, como a aristocrata romana Agripina. Miuccia também apresentou mini-tops espartilho com estampado de corda, usados de forma particularmente espetacular por Kaia Gerber. A maioria dos looks apresentados foram complementados por meias até ao joelho em nylon transparente com grandes logótipos Prada triangulares. Mas, as ideias mais ousadas foram os sensuais vestidos cocktail com lantejoulas gigantes, que tilintavam enquanto as modelos percorriam um vasto hangar, ao qual foram acrescentadas dez fileiras de bancadas gigantes, no interior da Fondazione Prada.
"A ideia principal era falar sobre o que se passa no mundo nos dias de hoje. Um desejo de liberdade e emancipação, e até de fantasia, confrontado com um conservadorismo extremo. Eu queria tentar representar o confronto dessas ideias contrárias. É essa a nossa realidade aqui hoje", explicou Miuccia Prada, em frente à sua Fondazione, que inaugura hoje uma série de exposições e debates. Haverá The Black Image Corporation, por Theaster Gates, que realizará um debate sobre Spike Lee na noite de sexta-feira, naquele que constitui o mais recente compromisso político-cultural da designer. A sua exposição principal anterior foi dedicada à arte durante o reinado do fascismo em Itália.
Até há cinco anos, raramente víamos um modelo negro num desfile da Prada: desta vez, o elenco era multirracial.
"O que me preocupa hoje em dia é a tendência para simplificar tudo. Até a política é governada por slogans. Às vezes, hashtags simples. Se se simplificar demasiado, pode-se dizer qualquer coisa. É isso que eu quero mostrar: a batalha entre esses dois campos", acrescentou Miuccia Prada, avisando que os seus clientes não querem demasiada fantasia e loucura.
"É uma experiência, um momento para inaugurar esta nova temporada, colocando Spike Lee no centro de um debate público. É necessário incutir vida na Fondazione. Dança, música ou o que quer que precisemos. A arte não é suficiente para expressar tudo", concluiu.
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