Outro dia eclético, e este com saldo encorpado. Como pontos altos é de se tomar nota da apresentação do Herchcovitch e da moda praia luxuosa da Lenny. Para finalizar, muitos fogos de artifício às margens da lagoa Rodrigo de Freitas, festejando os 20 anos da marca de beachwear.

Andrea Marques

O repertório da estilista não tem arroubos sexys, decotes profundos, formas vertiginosas ou grandes surpresas. Ela lida com formas controladas, adota estruturas da modelagem clássica, saia e blusa, vestidos de comprimento viável, cavas e decotes discretos, etc. O resultado corteja uma linha conservadora, da qual ela se afasta calculadamente pelo feeling contemporâneo do decor, pela sutileza da construção da peça e, principalmente, pela orquestração do conjunto dos elementos. Nesta coleção de tema mais que nacional, Copacabana Bacana, ela está em casa, desdobra a imagem do calçadão icônico de muitas maneiras, e manipula tudo o que foi citado acima com a leveza necessária para encontrar o caminho do acerto.

 

Trya

Avessa à água e faiscante, por conta de pedrarias e pérolas, a coleção que seria de beachwear sobreviveria melhor só com o que tem por trás desse luxo redundante de biju. É excitante o trabalho de estamparia, com  interpretação surpreendente de velhas referências, fundo do mar, etc, misturando vários motivos sem causar ruídos, só encantamento. A cartela de cores é bonita, e a modelagem desdobrada ao limite. Tem fôlego a marca, suficiente para se arriscar em vestidos, saias e blusas, que naturalmente passam ainda mais longe da água que os biquínis e maiôs grandes e inventivos que cruzaram a passarela. O material de divulgação fala de garotas complicadas e seus segredos, e relaciona o discurso com águas profundas e com a variedade caleidoscópica de elementos da coleção.

 

Herchcovitch

Logo nas 1ª entradas, a modelo Aline Weber apresenta um vestido levemente marcado na cintura, de comprimento discreto e decote comportado. O material é o jeans costumeiro. Descrito assim, e mesmo à primeira vista, não estamos diante de nada extraordinário, e é exatamente sobre esta percepção do banal queHerchcovitch vai deitar e rolar à medida que a coleção avança. Antes de continuar, é preciso dizer que o vestido "bobo" de Aline é todo bordado com casas de botão, contornadas por aquela manjadíssima linha amarela, singelamente distribuidas como padrão decorativo. O ajuste na cintura é dado por um cintinho branco que dispensa passadores e não se apoia na anatomia, ele atravessa uma sucessão de pregas projetadas para fora. São elas que acinturam o vestido e modelam delicadamente o corpo. Sem grandes efeitos e com um conhecimento sensível das coisas da costura, somados as do universo jeanswear, Alexandre sai em busca da sua mina particular, cria roupa  "prá tocar no rádio" e faz por merecer seu disco de ouro.

 

 

New Order

Os desfiles da New Order são um caso à parte. Em 1º, lugar porque o que deveríamos ver com atenção são os calçados, bolsas e acessórios que a marca faz e vende, em 2º, porque  o tratamento dado à roupa força uma apreciação bem mais abrangente, conduzindo nossa observação para o tema. Nesta estação a, marca abraça o universo do futebol, desdobrado em um rico exercício com a modelagem e a visualidade dos uniformes de times, do juiz, da rede do gol e dos gomos da bola levados também para a roupa. Os calçados são na maioria plataformas, construídas ora em camadas formando listras, ora fachetadas de corda. Tem também meia pata alta acompanhada de salto cheio. O tênis tem o mesmo efeito listrado no solado espêsso e com menos altura. Os cabedais são cheios, com elásticos largos e o cano do tênis é alto. Na base, há sempre uma camada com textura semelhante a de travas de chuteira. O efeito é bom, é pop e é jovem. As bolsas se apropriam da modelagem característica do mundo que a coleção aborda, e vão além da bolsa adequada para a hora do exercício, aquela de fole redondo e comprida que se leva para a academia. A pesquisa explora modelos usados pelo juiz, pela equipe médica e outras variações que escapam ao olho do público de futebol. Vão de muito magras a bem cheias, com belas mochilas e uma sequência ótima de modelos com franjas finalizadas por ponteiras de metal. O desfile é bonito, os produtos idem, e é bacana ver o cuidado da marca em nos envolver na narrativa que inspirou o trabalho da equipe de criação.

 

 

Giulia Borges

 O punk e o glam rock comandam a coleção da estilista que atravessa o pior e o melhor dos anos 1970. O desfile começa bem, com uma série de vestidos misturando linho rústico e vinil colorido em áreas de contorno definido e formas irregulares, e vai se perdendo aos poucos em florais exagerados, impropriedades técnicas como as tachas pesadas que entram em conflito com o tecido leve e outros pecadilhos. Entre as boas propostas do começo e a finalização duvidosa, é visível que a Giulia saiu em busca de uma visão particular do acúmulo de clichês que a referência normalmente põem em cena. E é esta interpretação original da década que rege a estação que vale a pena levar na memória.

 

Lenny

Sempre um dos desfiles mais esperados, o da Lenny, comemorando 20 anos na Lagoa Rodrigo de Freitas, movimentou todas as expectativas ao longo da semana e não decepcionou. As amantes da marca de moda praia luxo, que compareceram em peso, foram brindadas com a paisagem, com o casting arrasador e uma revisão de hits da marca entremeados com novas ideias. Interessantes, o biquíni de calcinha mínima e parte superior de desenho caprichoso, desfilado pela Ana Beatriz, de tirar o fôlego a série de couro cobra, em cores de efeito amazônico, e os vazados criando redes de motivos florais entre tantas outras soluções e efeitos que levam a assinatura sofisticada da estilista. No grand finale, muitos fogos de artifícios fazendo a vez do parabéns pra você.

 

 

 

Fotos: © Agência Fotosite
Eduardo Motta