3 de mar. de 2011
Estilistas portugueses encantam passarelas francesas
3 de mar. de 2011
Fátima Lopes, Luís Buchinho e Felipe Oliveira Baptista mostraram nos últimos dias as suas coleções para o próximo Outono/Inverno na Semana de Prêt-à-Porter, de Paris, com o apoio da Portugal Fashion.
Numa sala quase vazia, com um passo apressado, Felipe Oliveira Baptista acompanha o percurso de uma manequim ao longo do espaço, no Palais de Tokyo, o local onde foi apresentada a sua coleção. O criador português está a mostrar qual o ritmo que quer imprimir ao desfile que começará dali a uma hora. Ela, muito alta e magra, parece uma garça em cima de uns saltos gigantescos. É seguida por dezenas de raparigas, todas com a mesma feminilidade. Estão vestidas com as roupas que usam no dia-a-dia.
Felipe Oliveira Baptista no desfile da coleção outono-inverno 2011|2012 em Paris. Foto: Pixel Formula |
Pouco depois, perante uma plateia cheia - composta por jornalistas, compradores e criadores de moda e onde se ouvem falar todas as línguas -, as raparigas se transformarão, envergando as peças do criador português, belíssimas, com pormenores divinos e confeccionadas sem falha.
São os últimos momentos antes de tudo começar e, tal como acontece nestes eventos, de tudo acabar rapidamente. Durante os nove dias que dura a semana do Prêt-à-Porter, todos correm de um desfile para outro, às vezes de um sítio da cidade para o oposto. Em Paris, jornalistas e convidados assistem a 105 desfiles, onde se destacam as apresentações das coleções de Jean Paul Gaultier, Yves Saint Laurent, Stella McCartney, Hermès, Chanel, Louis Vuitton, entre outros.
O criador português tem consciência disso. "São seis meses de trabalho para serem mostrados em sete minutos. Tem que se ter atenção ao mínimo detalhe, são imagens que depois vão dar a volta ao mundo, é importante que o look esteja perfeito", explicou. Desta vez tudo correu bem, pareceu-lhe só que uma das golas estava a ser usada ao contrário por uma manequim.
Iguanas em bordados
Os seguidores de Felipe Oliveira Baptista no Facebook puderam ir vendo, nos últimos sete dias, as 64 imagens que ele colou na parede do seu atelier durante a concepção desta coleção para o próximo Outono/Inverno. O storyboard, de onde saem as cores e as ideia dos temas da coleção, era composto esta estação por: fotos de anfíbios (da autoria do fotógrafo Paul Starosta); imagens retiradas do livro Vanishing Africa, de Mirella Ricciardi; retratos feitos por Richard Avedon; revistas de moda antigas, fotografias tiradas na rua e ainda por cenas do filme A Estrada, de John Hillcoat.
Na coleção The Coming of the Iguanas, uma brincadeira com a ideia da vingança da natureza sobre o mundo mecânico, essa inspiração concretizou-se nos tons de verde e de castanho, as peles dos anfíbios tropicais inspiraram todos os bordados que foram aplicados quase como jóias, mas que são parte integrante da roupa. Os folhos vieram-lhe da ideia de camuflagem e da selva, mas foram feitos em seda.
Os casacos que apresentou eram magníficos, em lã tom sobre tom, mas com bolsos de pele e golas de vison. Os vestidos de seda ou de mousseline eram conjugados com camisolas de lã grossa ou mohair. Uma mistura sutil de materiais e de estilos foi o que se viu ontem na coleção para o próximo Inverno da linha em nome próprio deste rapaz de 35 anos, radicado na França, e que é o primeiro designer, nascido em Portugal, a estar na direção criativa de uma casa com sede na capital mundial da moda: a Lacoste, para onde entrou em Setembro, quando sucedeu a Christophe Lemaire.
No primeiro dia da Semana do Prêt-à-Porter, Fátima Lopes inaugurou oficialmente o calendário deste evento, tal como aconteceu em 2007.
Laetitia Mannesier - com as suas unhas pintadas de azul bebé, com o verniz Nouvelle Vague, a cor que a Chanel lançou em edição limitada, e parece estar nas mãos de todas as mulheres nesta semana da moda, ia enviando mensagens através do seu iPhone - está sentada na primeira fila. Esta jornalista da Simone Magazine, revista dedicada aos jovens artistas, assistia pela primeira vez às apresentações dos criadores portugueses. Fátima Lopes de manhã, Luís Buchinho à tarde.
No final do desfile de Fátima Lopes, Laetitia mostrou-se entusiasmada. "É uma coleção minimal, bem estruturada, fria, quase em bruto e que corresponde ao espírito do tempo e à sociedade dos nossos dias", analisa.
A coleção chama-se Checkmate e Fátima Lopes inspirou-se na década de 1960, "transformando-a numa colecção futurista". "Estamos a viver momentos tão difíceis, em que já não se suporta ouvir notícias, por isso apeteceu-me brincar um bocadinho com o bem e o mal - com o preto e o branco - e inserir na colecção uma peça de cor verde que representa a esperança", explicou a criadora no final do seu desfile.
Vestuário de pescador
Horas depois, foi numa garagem do bairro parisiense do Marais, que Luís Buchinho apresentou a sua colecção inspirada nos uniformes navais e no vestuário de pescador. O criador reinterpretou o tema náutico, dando-lhe um toque casual e sofisticado. Laetitia Mannesier gostou do aspecto confortável da colecção, da mistura de peças como as que usamos em casa com outras de corte mais rígido, ao estilo motard, "um pouco a lembrar o filme Mad Max".
Coleção de Luis Bochinho para a estação outono-inverno 2011|2012, em Paris. Foto: Pixel Formula |
Os anos passam e Buchinho continua a ser o criador português que melhor trabalha as malhas. "Ultimamente tenho trabalhado muito a parte de plissados e de drapeados, mas não queria, de todo, voltar a recorrer a tecidos fluidos e esvoaçantes", explicou no final do desfile. Para ele, os criadores portugueses que se apresentam em Paris não estão a vender só a sua imagem, mas a vender também a imagem do país, por isso a sua coleção é feita "100 por cento em Portugal e alguns dos tecidos são portugueses". Afinal, o que é português é bom.
O PÚBLICO viajou a convite do Portugal Fashion/ANJE
Isabel Coutinho, Público
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